“Uma exceção é a Madeira e outra exceção é La Gomera, em Canárias, e ambas são património mundial da humanidade da UNESCO, porque são duas áreas de floresta laurissilva bem conservadas”, explicou.
José Maria Fernández-Palacios, professor e investigador da Universidade de La Laguna, Canárias, falava no Funchal, no âmbito da cerimónia de abertura do programa que assinala os 25 anos da laurissilva da Madeira como Património Mundial Natural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), declarado em 1999.
O especialista indicou que ao nível na Macaronésia – região que engloba os arquipélagos da Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde – sobra apenas 10% da fração original de laurissilva e o seu estado de conservação é “bastante mau” nos Açores e na maior parte das ilhas das Canárias.
“Há dois tipos de problemas. Um mais ligado ao arquipélago dos Açores, porque ali o modelo de desenvolvimento económico é diferente, fundamentalmente agrícola, pecuária e florestal. Outro ligado ao turismo de massas, que é o ocorre na Madeira e em Canárias”, disse, alertando também para a ameaça que decorre da introdução de espécies exóticas.
José Maria Fernández-Palacios colocou, no entanto, o foco no turismo, tendo em consideração que a Madeira recebe cerca de três milhões de turistas por ano e as Canárias 17 milhões.
“A maior parte dos turistas não tem conhecimento dos valores naturais dos nossos arquipélagos, os que têm conhecimento e querem desfrutar, caminhando pela laurissilva, não são um problema”, disse, ironizando que, “quanto aos outros, o melhor lugar para ter turistas é no hotel”.
Já o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, que participou na cerimónia, considerou que a região não tem turismo de massas, pelo que esse “não é um problema que se coloca”.
“O que se coloca é a coordenação de alguns pontos da Madeira que são muito visitados no sentido de garantir que não há um acesso muito congestionado”, esclareceu, adiantando que o objetivo das autoridades é diversificar a oferta ao nível dos percursos e da atratividade para melhor gerir a afluência de turistas.
“Não é só a questão da pressão humana, a questão é que de as pessoas, quando vão visitar este património único, terem a possibilidade de usufruir em condições da riqueza que tem para oferecer”, acrescentou.
O chefe do executivo madeirense esclareceu que o principal desafio é evitar que as plantas exóticas e infestantes afetem a floresta laurissilva, circunstância que “vai obrigar a constantes investimentos do governo”.
Miguel Albuquerque lembrou que cerca de 65% do território regional tem estatuto de reserva, o que implica um “investimento de milhões”, nomeadamente na monitorização e reabilitação, bem como no financiamento dos corpos de Polícia Florestal e Vigilantes da Natureza.
“São muito afoitos [as instituições internacionais] a declarar as reservas, dão-nos umas grandes medalhas e umas grandes ovações, mas depois em termos de fundos [para a sua manutenção] estamos sempre limitados”, alertou.
Considerada uma relíquia ecológica e biológica, a laurissilva da Madeira ocupa uma área de 15.000 hectares, o equivalente a 20% do território da ilha, e localiza-se, essencialmente, na costa norte, dos 300 aos 1.300 metros de altitude, e na costa sul persiste nalguns locais de difícil acesso, dos 700 aos 1.200 metros.
A floresta encontra-se em bom estado de conservação, de acordo com os reportes mais recentes para a Rede Natura, assim como os efetuados pela União Internacional para a Conservação da Natureza, resultado de intervenções para controlar espécies invasoras e reduzir o risco de incêndios.
O programa que assinala os 25 anos da laurissilva da Madeira decorre até sábado, sob o tema “25 anos de Reconhecimento, Milhões de Anos de Floresta”, e é uma iniciativa da Secretaria Regional de Agricultura, Pescas e Ambiente, através do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN).
O evento inclui conferências, visitas técnicas e debates, com a participação de especialistas nacionais e internacionais.
Lusa