"No fundo, o que pretendemos é que o cão faça a ponte entre a criança e o mundo que a rodeia", disse à agência Lusa Rui Elvas, presidente da associação, vincando que o cão faz com que criança se foque nele, abstraindo-se dos elementos que a perturbam e mantendo deste modo um bom nível de conforto, tranquilidade e segurança.
Lia tem quatro meses e encontra-se apenas há de duas semanas em casa do Francisco, em Machico, na zona leste da Madeira, mas já está bastante afeiçoada ao novo amigo, fazendo jus às qualidades da raça.
"Estes cães têm uma ligação às crianças absolutamente fantástica e quase de imediato", explicou Rui Elvas, destacando o facto de ser um cão de porte relativamente pequeno e que se mantém sempre ao pé das pessoas, além de que o seu pelo não cai e não provoca alergias.
Francisco tem quatro anos e nos primeiros dias não ligava muito à Lia, mas a sua mãe, Carla Pereira, está confiante que a situação vai mudar com o tempo.
"Aos poucos e poucos, ele vai ter consciência que está ali um animal para brincar, para o estimular, e penso que vai aproximar-se dele e a Lia também. Penso que vão fazer uma boa amizade", disse, realçando a importância que o cão poderá assumir no sentido de "facilitar a vida" à família.
A Associação Portuguesa de Cães de Assistência iniciou a atividade há quatro anos e é pioneira na área dos cães para autismo.
"Não estamos a trabalhar apenas em Portugal, mas também em Angola, Alemanha, Suíça e Dinamarca e temos já pedidos para o Dubai e para a ilha de Jersey", contou Rui Elvas, salientando que a Lia é o primeiro cão a ser entregue na Madeira, onde entretanto já foi feito mais um pedido.
No total, a associação dispõe de 13 cães a operar em Portugal e 18 ao nível internacional, havendo já uma lista de 250 pedidos.
"Um cão destes, em espaço nacional, custa em média 5.000 euros, incluindo todo o processo, desde a aquisição, treino e certificação, mas é um cão que faz 14 anos de vida, pelo que é um investimento a longo prazo", disse Rui Elvas.
Carla Pereira reconhece, por seu lado, os "custos muito elevados" do recurso a um cão de assistência, de cuja existência tomou conhecimento no dia de Natal de 2017 numa reportagem na televisão, onde se relatava a entrega do primeiro cão na ilha Terceira, nos Açores, curiosamente a um menino autista chamado Francisco, cuja mãe também se chamava Carla.
"Ficámos a pensar se seria ou não possível", conta, realçando que a família nunca tinha tido um cão, pelo que estes primeiros tempos com a Lia têm sido "muito complicados", embora esteja confiante que a situação vai melhorar com o tempo.
O processo de entrega de um cão de assistência decorre em três grandes etapas: a da adaptação à família, a da obediência e a do trabalho em espaço público, quando o animal começa a frequentar locais onde normalmente não é aceite, como restaurantes, lojas, centros comerciais ou aviões.
"O cão é acompanhado de forma regular durante um ano e meio pelo treinador e depois o processo torna-se natural", disse Rui Elvas.
LUSA