“Repetimos, mais uma vez, que continuaremos a depender dos dados, o que se justifica particularmente tendo em conta a incerteza. Decidiremos reunião a reunião e a trajetória, cuja direção é obviamente descendente, não está predeterminada nem na sua sequência, nem no seu volume”, afirmou a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, na conferência de imprensa após o anúncio da descida das taxas.
Lagarde salientou que esta dependência face aos dados disponíveis não se baseia num único indicador, mas numa bateria completa de indicadores.
A presidente do BCE fez ainda referência à possível descida da inflação em setembro, mas avisou que, mesmo que se confirme, este não é o único indicador que a instituição analisa para tomar a sua decisão.
“Não nos estamos a comprometer antecipadamente com uma determinada trajetória de taxas”, sublinhou Christine Lagarde no início da sua intervenção após o anúncio da decisão do BCE.
Lagarde referiu que os dados mais recentes confirmam as previsões anteriores e reforçam a confiança de que as projeções serão cumpridas “atempadamente” e que, devido ao processo desinflacionário gradual, foi considerado “perfeitamente adequado moderar o grau de restritividade da política monetária”.
Segundo sustentou, os dados da inflação suportam esta decisão, mesmo que os relativos à inflação subjacente “não sejam satisfatórias”, dado o seu caráter “resiliente” e “persistente”.
A responsável pela política monetária da zona euro reiterou o seu compromisso de fazer regressar a inflação ao objetivo de 2% e de manter o preço do dinheiro elevado durante o tempo necessário para o conseguir.
Hoje reunido em Frankfurt, na Alemanha, o Conselho do BCE reduziu a taxa de facilidade permanente de depósito de 3,75% para 3,5%, enquanto as taxas de juro das operações principais de refinanciamento e da facilidade permanente de cedência de liquidez diminuíram 60 pontos base para 3,65% e 3,90%, respetivamente (contra os anteriores 4,25% e 4,50%), na sequência de um ajuste técnico.
Estas alterações terão efeitos a partir de 18 de setembro.
A descida hoje anunciada foi a segunda este ano, após a redução de 25 pontos base nas três taxas em junho, a primeira em oito anos e desde que o BCE iniciou o ciclo restritivo da política monetária devido ao aumento da inflação, com 10 subidas consecutivas entre julho de 2022 e setembro de 2023.
Na conferência de imprensa, Lagarde referiu-se ainda ao ajustamento técnico anunciado em março e que entrará em vigor a 18 de setembro, relativo às taxas de juro aplicáveis às operações principais de refinanciamento e à facilidade permanente de cedência de liquidez.
Na sequência da descida destas taxas para 3,65% e 3,90%, respetivamente, o diferencial entre a taxa de depósito e a taxa das operações principais de refinanciamento será de 15 pontos base e o diferencial entre a taxa de depósito e a taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez será de um quarto de ponto.
Desta forma, a taxa de depósito tornou-se, de facto, a taxa de referência para determinar os juros que as instituições financeiras recebem – ou pagam, se forem negativos – por manterem os seus depósitos no BCE.
Anteriormente, a taxa de refinanciamento era uma variável com mais peso na informação sobre as decisões de política monetária do BCE. No entanto, esta perdeu relevância ao longo do tempo, devido ao excesso de liquidez no sistema financeiro em resultado do maior acesso dos bancos aos fundos do BCE, o que fez com que os bancos utilizassem mais os depósitos.
O objetivo final do ajustamento seria alinhar as taxas de curto prazo do mercado monetário com as decisões do Conselho do BCE, assim como eliminar o excesso de liquidez do sistema, de modo a não interferir com a correta transmissão da política monetária.
Lusa