Na sua intervenção inicial na comissão de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria, Maria João Ruela referiu o email que o filho do Presidente da República enviou ao chefe da Casa Civil em 29 de outubro de 2019, no qual referia que “nada evoluiu e ninguém falou com os pais das crianças”.
A consultora considerou que Nuno Rebelo de Sousa estava a lamentar-se ao seu chefe da sua “percecionada inação”.
“Escreveu um mail ao meu chefe queixando-se de que eu não fiz nada”, afirmou mais em frente, em resposta ao PAN.
Já em resposta ao BE, Maria João Ruela disse que hoje entende esse contacto de Nuno Rebelo de Sousa mais como “uma medalha”.
A assessora de Belém disse também que pediu os contactos dos pais das crianças, mas não os contactou, nem foi contactada por eles, e que também nunca falou por telefone com o filho do chefe de Estado, que conheceu “profissionalmente” em 2017.
“Eu não sabia como é que ia evoluir o caso. Achei que podia ser útil no futuro ter o contacto, mas não foi necessário”, defendeu, numa audição que durou mais de três horas.
Maria João Ruela recusou também ter tratado de qualquer outro processo que tivesse tido intervenção de Nuno Rebelo de Sousa.
A consultora da Casa Civil do Presidente da República referiu que só tratou de “casos semelhantes que tinham a ver com as comunidades portuguesas, como era este caso” e lembrou um pedido de um familiar de uma bebé que estava em França e “que tinha a mesma doença e pedia ajuda para ser transportada para Portugal”.
“Antes disso, tratei dos 64 pedidos de cidadãos que viram as notícias da bebé Matilde e estavam a pedir ao Presidente da República que intercedesse para que ela obtivesse o dinheiro para o tratamento” nos Estados Unidos da América, acrescentou.
Na audição de mais de três horas, com duas rondas de perguntas, Maria João Ruela e o líder do Chega tiveram um momento de tensão, com André Ventura a acusar a assessora de mentir à comissão de inquérito por dizer que não tinha conhecimento do relatório da IGAS, e também devido a um suposto email a notificá-la do caso e do que fazer que não teria sido enviado ao parlamento.
“Não me acuse de mentir, acho que atinge a minha honra”, respondeu Ruela, considerando que o deputado estava “à procura de criar uma história”.
Entretanto, ainda durante a audição, a Casa Civil da Presidência da República enviou um ofício aos deputados da comissão dando indicação de que não havia emails em falta na documentação enviada à Assembleia da República e ao Ministério Público e que o contacto com Maria João Ruela foi feito por papel.
Lusa