E apela em particular aos países que mais emitem gases com efeito de estufa para que invistam “num futuro melhor e mais sustentável”.
A mensagem de António Guterres vem no último relatório da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla original, também conhecida como Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas), hoje divulgado. A UNFCCC é a entidade da ONU que apoia a resposta global às alterações climáticas.
Começando por dizer que no ano passado houve alguns aumentos de ambição na luta contra as alterações climáticas, António Guterres acrescenta depois na mensagem que esses passos foram esmagados por duas realidades abrangentes: a contínua intensificação do padrão de destruição e perdas associadas às alterações climáticas, e a falta de decisões para potenciar o Acordo de Paris, sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa.
Relembrando o que a ciência tem dito, que um aumento superior a 1,5 graus celsius na temperatura média levará o planeta a “um desastre catastrófico e a eventos climáticos extremos”, António Guterres lembra também o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, no qual se alerta que a menos que as emissões globais de gases com efeito de estufa baixem 7,65% por ano, entre 2020 e 2030, o mundo não estará “no bom caminho” para atingir os objetivos do Acordo de Paris.
O secretário-geral da ONU lembrou também a pandemia do novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, para dizer que a emergência climática continua e que se os governos estão, e bem, concentrados em salvar vidas e em atenuar os impactos económicos e sociais da covid-19, devem na recuperação orientar-se para um “caminho mais sustentável” e inclusivo, que enfrente as alterações climática, proteja o ambiente, inverta a perda de biodiversidade e assegure a saúde e a segurança a longo prazo da humanidade.
António Guterres diz que ações relacionadas com o clima podem ajudar a recuperação, como investir em empregos verdes ou acabar com subsídios a combustíveis fósseis, como evitar apoios a indústrias poluentes e ter em conta o clima nas decisões financeiras e políticas.
Há países e empresas que já o estão a fazer, diz, acrescentando que é preciso também, e com urgência, aumentar a ambição na luta contra as alterações climáticas e na meta de emissões neutras de gases em 2050.
O responsável máximo da ONU afirma que, além de investimentos numa nova economia, é preciso também ajudar os países em desenvolvimento e os mais vulneráveis.
Patrícia Espinosa, secretária executiva da UNFCCC, diz também no documento, que faz um resumo das principais ações da organização em 2019, que a agenda das alterações climáticas deve fazer parte dos planos de recuperação pós-pandemia, transformando “a recuperação numa oportunidade de promover um futuro mais verde, mais seguro e mais saudável para todos”.
“Apesar dos progressos, nunca o fosso entre a realidade climática e a ação climática foi maior; nunca o fosso entre as negociações climáticas globais e as exigências da sociedade, em particular da juventude, foi mais profundo”, escreveu também, na introdução do relatório, no qual deixa ainda um alerta: “As alterações climáticas estão a ameaçar a sobrevivência da humanidade”.
C/Lusa