A viver em Portugal há nove anos, o médico ucraniano Yaroslav Chernousov, que entretanto adquiriu a nacionalidade portuguesa, disse que “está pronto” para partir para um centro de refugiados para apoiar as vítimas ucranianas.
Yaroslav Chernousov, que faz parte do “gabinete de apoio humanitário” criado pela Ordem dos Médicos (OM) em colaboração com médicos ucranianos e russos que exercem em Portugal, destacou o apoio que tem recebido dos colegas portugueses.
Segundo o médico, várias dezenas de médicos portugueses e ucranianos demonstraram a sua disponibilidade para integrar missões humanitárias na fronteira da Polónia, Hungria e Eslováquia com a Ucrânia e alguns para irem para hospitais ucranianos, mas, ressalvou, ainda se está na fase de organização de um grupo.
Esta situação também foi partilhada pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que nos últimos dois dias se reuniu, via zoom, com cerca de duas centenas de médicos ucranianos e russos que exercem em Portugal, com o objetivo de “ouvir as suas reflexões e preocupações” sobre a ofensiva russa contra a Ucrânia, bem como encontrar sinergias institucionais que permitam uma atuação concreta nesta matéria”.
“Todos os médicos com quem falámos mostraram a sua disponibilidade não só para ajudar os refugiados, mas se for necessário para ir também às fronteiras para selecionar pessoas e trazê-las para Portugal” e “alguns até estão disponíveis para ir para o cenário de guerra, mas isso é uma questão mais complexa que depende sempre do Governo”, disse Miguel Guimarães.
O bastonário explicou que isso carece de uma coordenação estruturada e organizada, com listas objetivas das necessidades e organização dos médicos disponíveis por sub-regiões médicas e locais de trabalho.
Relativamente aos médicos russos, disse que manifestaram a sua solidariedade e disseram estar contra a guerra, disponibilizando-se para receber os doentes e reforçar o apoio que for necessário.
Yaroslav Chernousov congratulou-se com “o grande apoio” que os médicos ucranianos têm sentido dos colegas perante “uma tragédia” que vai deixar sequelas durante muitos anos.
“A missão de cada médico é ser um apoiante dos processos humanitários não apenas em Portugal, mas também no mundo, na Europa, e vamos ter muitos refugiados desta guerra, tendo em conta que 95% dos feridos são civis”, lamentou.
“Nós temos sangue quente, mas cabeças frias, muito pragmáticas. As emoções agora têm que estar controladas porque é mais importante sermos práticos para conseguir lidar com os problemas que houver”, frisou o médico que vive e trabalha no Porto e que faz parte dos cerca de 320 médicos ucranianos que exercem em Portugal.
Chamou ainda a atenção para as necessidades que os hospitais ucranianos têm em termos de material para transfusões de sangue, antibióticos, analgésicos e outros medicamentos e dispositivos de primeira linha, mas observou que a “maior dificuldade” é a ajuda humanitária não conseguir chegar aos hospitais de cidades ucranianas.
“A ajuda chega junto da fronteira com a Ucrânia, mas depois tem dificuldade em ser distribuída dentro do país”, disse.
Miguel Guimarães também lamentou que haja um corredor humanitário para as pessoas abandonarem o país, mas não haja um para fazer chegar o material e equipamento fundamentais para tratar as pessoas ou para evacuar feridos mais graves para fora do país para serem tratados.
Lusa