“Tudo indica que terá sofrido um abalroamento por uma embarcação grande e quando isso acontece normalmente os animais acabam por morrer – ou morrem logo pelo impacto ou, se não morrem nos instantes seguintes ao impacto, acabam por morrer mais tarde e foi o que aconteceu a este cachalote”, afirmou a bióloga do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) Marina Sequeira.
Em declarações à agência Lusa, a bióloga reforçou que, “quanto mais não seja pelos ferimentos que tem, um animal que sofreu um abalroamento dificilmente sobrevive”, e assegurou que, apesar dessa indicação, foram feitos todos os esforços possíveis para salvar a baleia cachalote.
“Desde logo através da atuação, em primeira mão, da Polícia Marítima enquanto o cachalote estava em águas mais profundas, ainda afastado da praia, em que tentaram com embarcações que ele não se aproximasse da praia. Tentaram conduzi-lo para zonas mais profundas, mas o animal não reagiu, portanto não foi possível afastá-lo para o largo e depois acabou por arrojar na praia”, indicou.
A Polícia Marítima foi informada por volta das 09:00 de hoje da existência de uma baleia junto à praia da Fonte da Telha. Depois de a tentativa de encaminhá-la para o mar, em colaboração com o ICNF, não ter tido sucesso, o animal por encalhar no areal.
“Neste momento são 19:00 e ele ainda está vivo”, informou a bióloga, sem saber indicar quanto tempo mais o animal consegue manter-se com vida.
Questionada sobre a possibilidade de recorrer à eutanásia, uma vez que o animal acabará por morrer, Marina Sequeira disse que “foi equacionada, mas sabendo à partida que não seria possível” devido às dimensões da baleia cachalote, que tem quase 15 metros de comprimento (e não 10, como inicialmente calculado pelas autoridades) e um peso estimado de cerca de 15 toneladas.
“Seria preciso muito produto, uma quantidade enorme de produto químico para fazer a eutanásia. As clínicas veterinárias não têm a quantidade que seria exigida para um animal deste tamanho e mesmo outro tipo de produtos químicos para fazer a eutanásia são de difícil manipulação por serem extremamente perigosos”, sustentou.
A representante do ICNF realçou a intervenção de alguns populares que cavaram uma espécie de canais de água e começaram a levar água com baldes e com regadores, para minimizar o sofrimento. Porém, lamentou, “os danos em órgãos internos são suficientemente graves para que o facto de molhar o animal não consiga reverter o processo”.
Relativamente à remoção do animal do areal da praia, a bióloga adiantou que o transporte será feito pelos serviços da Proteção Civil da Câmara Municipal de Almada para o aterro sanitário, mas ainda não se sabe quando, porque apenas será feito depois de o animal ter morrido.
O ICNF irá realizar uma necropsia ao cadáver na próxima segunda-feira.
“A partir do momento em que o animal assentou na areia, tornou-se impossível deslocá-lo sem provocar mais danos e sofrimento, além daqueles já relacionados com os problemas de que padece – e que terão estado na origem do arrojamento – e com o sofrimento provocado por ter o seu peso todo assente na areia”, acrescentou o ICNF, em comunicado, assegurando que continuará no local a acompanhar a situação e que, caso se confirme a morte, fará posteriormente uma avaliação externa mais aprofundada para avaliar a existência de ferimentos ou sintomas de doenças que expliquem esta ocorrência.
Em declarações à comunicação social, o provedor do Animal do município de Almada, Nuno Paixão, disse que os arrojamentos destes animais ainda vivos não são uma situação frequente, mas têm sempre uma causa – podem estar doentes ou feridos, ou devido à idade.
“Não vêm para terra porque lhes apetece, algo faz com que venham”, disse, adiantando que nestas circunstâncias o prognóstico de sobrevivência nunca é bom e lamentando também que este cenário venha acontecendo com frequência um pouco por todo o mundo.
Lusa