"O que estamos a ver na Extremadura, em Valência, em muitos municípios e outras comunidades autónomas onde o Partido Popular (PP, direita), de uma maneira ou outra, está a governar com a extrema-direita, fazendo pactos com ela, é um corte obsceno de direitos em troca de votos", disse Sánchez.
O líder dos socialistas espanhóis deu como exemplo a retirada esta semana, de edifícios públicos, de bandeiras arco-íris, símbolo do movimento de luta contra a discriminação com base na orientação sexual.
"Retirar uma bandeira LGBTI [lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais] da fachada de uma instituição pública é retirar direitos. Não é só retirar uma bandeira, é não reconhecer direitos reconhecidos na lei e consagrados na nossa Constituição", afirmou.
Sánchez falava numa conferência de imprensa em Bruxelas, no final de um Conselho Europeu em que garantiu que líderes de outros países se mostraram "surpreendidos e contrariados" pelo "retrocesso" que está a haver no discurso público em Espanha com os acordos do PP com o partido de extrema-direita VOX após as eleições locais e regionais de 28 de maio.
São "certos debates em que Espanha, até 28 de maio, era um exemplo e, neste momento, é um ‘contra exemplo’", acrescentou.
Sánchez pediu aos espanhóis para "tomarem nota" dos termos dos acordos entre o PP e o VOX, quando faltam poucas semanas para as eleições legislativas nacionais de 23 de julho, cujas sondagens dão a vitória aos populares sem maioria absoluta, mas que poderiam alcançar com um acordo com a extrema-direita.
As declarações de Sánchez seguiram-se a um novo acordo anunciado hoje pelo PP e pelo VOX para uma coligação de governo na região da Extremadura.
Os dois partidos já alcançaram em 13 de junho um acordo semelhante para o governo regional da Comunidade Valenciana e já estão juntos desde 2022 no executivo de Castela e Leão.
PP e VOX alcançaram um acordo na Extremadura que garante aos populares a presidência do governo regional, apesar de o Partido Socialista (PSOE) ter sido o mais votado nas eleições.
O acordo anunciado hoje materializa um recuo da líder do PP na Extremadura, María Guardiola, que há dez dias tinha afirmado que preferia não ser presidente do governo regional ou repetir as eleições a deixar entrar no executivo autonómico o VOX, por ser um partido "que nega a violência machista", que "desumaniza os imigrantes" e que "deita para o lixo a bandeira LGBTI".
Guardiola acabou por recuar e negociar com o VOX depois de o líder nacional do PP, Alberto Núñez Feijóo, a ter instado a conseguir um acordo "rápido" para um mudança na Extremadura, uma região na fronteira com Portugal (com a Beira Interior e o Alentejo), que era liderada pelos socialistas.
Feijóo recusou hoje comentar o acordo, mas uma dirigente nacional do PP, Carmen Funez, congratulou-se com o "triunfo do diálogo" na Extremadura, onde os cidadãos "pediam uma mudança".
María Guardiola assumiu hoje que os últimos dias foram difíceis e justificou a mudança de posição por ter feito "um profundo processo de reflexão" em que concluiu que a sua palavra "não era tão importante como o futuro da Extremadura", cujos cidadãos precisam de "mudar de vida".
Guardiola assegurou que o acordo que assinou com o VOX mantém intactos os seus princípios.
Por causa da vitória da direita e do avanço da extrema-direita nas eleições de 28 de maio, Pedro Sánchez, convocou legislativas nacionais antecipadas para 23 de julho.
A pré-campanha eleitoral tem estado dominada pelos acordos do PP com o VOX e, na última semana, pelas declarações e perfis de pessoas que o partido de extrema-direita escolheu para presidir aos diversos parlamentos regionais ou para o governo da Comunidade Valenciana, que são negacionistas das vacinas e das alterações climáticas, ativistas contra o aborto ou que dizem que a violência de género não existe.
Lusa