“Condeno veementemente o ataque terrorista mortal ocorrido durante as orações de sexta-feira na Mesquita Ali Bin Abi Talib, em Homs, na Síria. Os ataques contra civis e locais de culto são inaceitáveis”, afirmou Guterres na rede social X.
O líder das Nações Unidas defendeu ainda que os responsáveis do ataque “devem ser identificados e levados à justiça”, disse o seu porta-voz, Stéphane Dujarric.
O grupo radical sunita Saraya Ansar al-Sunna reivindicou hoje a autoria do ataque contra a mesquita numa zona alauita em Homs, no centro da Síria.
Os seus combatentes “detonaram vários engenhos”, escreveu o grupo numa mensagem publicada na plataforma Telegram, ameaçando continuar os ataques contra “infiéis e apóstatas”.
O Saraya Ansar al-Sunna já tinha reivindicado a autoria de um atentado suicida numa igreja em Damasco, em junho de 2015.
As origens deste grupo são ainda pouco claras, admitindo-se como hipóteses ligações ao Estado Islâmico, sabendo-se porém que usa um discurso abertamente jihadista e contra as minorias religiosas sírias, sobretudo as de base xiita.
Este é o segundo ataque deste tipo contra um local de culto desde que uma coligação de grupos islamitas assumiu o poder na Síria, em 08 de dezembro de 2024.
Citando um responsável do Ministério da Saúde, a agência oficial síria Sana noticiou que pelo menos oito pessoas morreram e 18 ficaram feridas no atentado de hoje.
A cidade de Homs, predominantemente sunita, possui diversos bairros habitados pela minoria xiita alauita, à qual pertence o ex-presidente sírio Bashar al-Assad, que foi deposto há cerca de um ano pelos rebeldes atualmente no poder e fugiu para a Rússia.
Desde então, esta comunidade muçulmana tem estado no centro de graves vagas de violência sectária, entre membros das antigas forças de segurança leais ao regime autoritário da família al-Assad e as atuais, que emanaram do golpe militar há cerca de um ano.
As forças rebeldes eram lideradas pela Organização para a Libertação de Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS) e comandadas por Ahmad al-Sharaa, atual Presidente de transição, que, apesar das suas antigas ligações aos grupos terroristas Al-Qaida e Estado Islâmico, tem usado um discurso conciliatório em relação às minorias religiosas.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio classificou o atentado de hoje como um “ato criminoso cobarde”, que constitui uma das “tentativas desesperadas e repetidas de minar a segurança e a estabilidade e semear o caos” na Síria.
Em comunicado, a diplomacia de Damasco afirmou que os responsáveis serão acusados e que o país vai combater “o terrorismo em todas as suas formas”.
Em março, os massacres na região costeira da Síria, onde reside grande parte da comunidade alauita, fizeram mais de 1.700 mortos, após confrontos entre as forças de segurança e apoiantes de Bashar al-Assad, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido mas que conta com uma vasta rede de fontes no país.
Uma comissão nacional de inquérito documentou pelo menos 1.426 mortes, na maioria civis, e reconheceu a ocorrência de execuções sumárias cometidos por efetivos das novas forças de segurança, embora tenha afastado a existência de ordens superiores nesse sentido.
Uma comissão de inquérito da ONU concluiu em agosto que a violência era “generalizada e sistemática” e podia, em alguns casos, constituir “crimes de guerra”.
Quatro meses mais tarde, a província de Sweida, no sul do país, de maioria drusa, foi palco de violência entre esta comunidade e populações beduínas, na qual se envolverem também as forças de segurança, provocando mais de 2.000 mortos, segundo números do Observatório.
As ameaças contra os drusos foram justificadas pelas forças israelitas para atacar a vizinha Síria, em alegado apoio desta comunidade esotérica descendente de um ramo do Islão, que está também integrada em Israel.
Lusa