Na semana passada, foi revelada na edição atualizada da biografia de Mário Soares escrita por Joaquim Vieira uma frase do secretário-geral do PS e atual primeiro-ministro, António Costa, relativa a José Sócrates: “Concluo que ele, de facto, aldrabou-nos [ao PS]”.
Hoje, no seu primeiro embate parlamentar com António Costa, Paulo Mota Pinto aludiu ao episódio, sem citar o verbo ou nome de José Sócrates, desafiando o primeiro-ministro a dizer se os portugueses vão ou não perder poder de compra devido à inflação.
“Vai honrar a sua palavra em termos reais ou tudo não passou de um logro e os portugueses qualquer dia vão ter de chegar à mesma conclusão – embora, claro, só no plano político – que o senhor primeiro-ministro recentemente quis tornar pública sobre o último primeiro-ministro socialista de quem aliás foi ministro?”, questionou.
António Costa também não se referiu a José Sócrates e reiterou que o Governo manterá o princípio de atualização anual que restabeleceu em 2019: “Repor a erosão do poder de compra verificado no ano anterior”.
“É a regra que mantemos este ano e vamos manter no próximo ano a regra de atualização anual. E faremos isso em negociação com os sindicatos e tendo em conta a evolução quer da inflação quer da capacidade financeira do Estado para 2023”, disse.
O presidente do PSD, Rui Rio, está hoje ausente do debate orçamental devido à morte de um familiar.
Na sua intervenção, o líder parlamentar do PSD afirmou que, com as previsões de inflação nos 4% (e que considerou que serão ultrapassadas), os funcionários públicos “perderão no final do ano pelo menos meio salário”.
“A inflação é conveniente para as finanças públicas e é na realidade um imposto escondido muito regressivo. O Estado ganha, os trabalhadores do Estado perdem”, acusou.
“Vamos deixar a semântica de saber se é ou não austeridade, vamos à substância, reconhece que os portugueses vão perder poder de compra?”, questionou.
Mota Pinto acusou ainda “o Governo e o primeiro-ministro de serem os menos reformistas e mais conservadores desde o início do século”, citando os vários países europeus que já ultrapassaram Portugal no PIB per capita.
“O senhor primeiro-ministro tem condições únicas como ninguém teve em democracia: maioria absoluta, Presidente da República e partidos da oposição dialogantes para servir o país, um período de crescimento económico internacional muito reformista. Vai desperdiçar uma oportunidade única por falta de coragem reformista?”, questionou.
O líder parlamentar do PSD questionou ainda António Costa sobre “como vai responder ao repto do Presidente da República” de aumento de meios para as Forças Armadas, mas não teve resposta neste capítulo.
António Costa centrou a sua réplica na questão dos rendimentos, acusando o PSD de ter sido contra o aumento do Salário Mínimo Nacional no passado e durante a campanha eleitoral, o que mereceu protestos da bancada social-democrata.
“Eu sei que é chato, mas é a vida”, disse o primeiro-ministro.