Em entrevista à RTP, a primeira desde que assumiu a liderança do MP, Lucília Gago afirmou nunca ter colocado a hipótese de se demitir após as críticas de que a própria e o MP de forma geral têm sido alvo, na sequência de processos mediáticos como a Operação Influencer, que levou à queda do Governo de António Costa, investigado, mas não constituído arguido no caso.
“Não, nunca. Não coloquei nunca essa questão, porque encaro o meu mandato como sendo um mandato que leva um cunho de rigor, de objetividade, de isenção”, disse a procuradora-geral da República (PGR).
Lucília Gago afirmou ainda que há uma “campanha orquestrada” contra o MP, questionando a legitimidade de algumas das pessoas que o criticam.
“Estou perfeitamente consciente que há de facto uma campanha orquestrada por parte de pessoas que não deviam, uma campanha orquestrada na qual também se inscrevem um conjunto alargado pessoas que têm atualmente, ou tiveram no passado, responsabilidades de relevo na vida da nação. Melhor fora que não fizessem os ataques que têm sido desferidos”, criticou a PGR.
Recentemente várias figuras da política e sociedade civil uniram-se em torno de um manifesto que pede uma reforma da justiça e critica a atuação do MP, e onde se incluem antigos lideres partidários como Rui Rio, antigos presidentes da Assembleia da República como Ferro Rodrigues ou Augusto Santos Silva, ex-ministros, ex-deputados, entre outros.
“Acho que há muitas formas de se exercer essa pressão e que ela ocorre, efetivamente, como os factos recentes bem ilustram”, disse ainda Lucília Gago.
Debaixo de críticas na entrevista desta noite esteve também a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, que em entrevista recente ao Observador defendeu a necessidade de pôr “ordem na casa” no MP, e apontou problemas de comunicação e de credibilidade a esta magistratura, imputáveis à atual PGR.
Essas declarações, disse hoje Lucília Gago, foram uma “mola impulsionadora” para as críticas que hoje deixou, tendo considerado as palavras da ministra da Justiça “indecifráveis e graves”.
“Confesso que ouvi essas declarações uma e outra vez, fiquei algo incrédula e perplexa”, disse.
Considerou-as indecifráveis desde logo por não lhe ter sido referido nada do “diagnóstico” que ouviu na entrevista numa audiência de três horas com Rita Alarcão Júdice e que “seria uma ocasião ótima para o fazer”.
E graves por apontar falhas ao MP como falta de liderança e de capacidade de comunicação, assim como por afirmar que é preciso “arrumar a casa” e que tem que haver “restituição de confiança”.
“Não há hipérbole alguma aqui, é muito direto e incisivo, dizendo que nos últimos tempos houve perda de confiança imputável ao MP e à atual liderança que o PGR exerce”, disse Lucília Gago, recorrendo ao termo hipérbole, usado pelo ex-PGR Cunha Rodrigues para classificar as declarações da ministra da Justiça sobre a PGR e o MP.
“É uma declaração extraordinária, que imputa ao MP a responsabilidade pelas coisas más que acontecem no território da justiça, coisa que rejeito em absoluto”, concluiu a chefe do MP.
Lusa