O livro "Ferramentas do linho e da lã", da autoria do investigador madeirense Danilo Fernandes, é lançado sábado, no Funchal, e reflete o "ADN do povo rural da Madeira" através da sua ligação às atividades linheiras.
"Através do estudo das ferramentas do linho, cheguei à conclusão que, em termos gerais, é nas regiões da Beira Baixa e Baixo Alentejo que estão as nossas origens", disse à agência Lusa o autor do livro, que é também o responsável pelo Núcleo Museológico de Arte Popular, situado na Boa Nova, Funchal.
Danilo Fernandes explicou que há cinco anos reforçou a investigação sobre os utensílios usados para a tecelagem do linho e da lã na ilha da Madeira, tendo recolhido depoimentos de 62 tecedeiras.
O investigador adiantou que conseguiu descobrir as origens de algumas famílias do arquipélago através de nomes distintos dados a um mesmo instrumento e deu como exemplo uma peça exposta naquele espaço que é conhecida por ‘pombinho’, acrescentando que há uma família de Santana (norte da ilha) que lhe dá o nome de ‘andorinha’, o mesmo usado nas terras do Caramulo, no Continente.
"Provavelmente, a origem dessa família situa-se naquela zona", admitiu.
O levantamento de informação feito pelo autor nas zonas rurais da Madeira proporcionou a aquisição das ferramentas do linho para o museu, que pertenciam a tecedeiras dos concelhos de São Vicente, Porto Moniz e Santana (norte da ilha), Santa Cruz e Machico (zona leste) e Calheta (zona oeste).
Danilo Fernandes registou no livro a história das ferramentas, os seus significados e funções, o modo de utilização e preparou um glossário das palavras utilizadas para designar os instrumentos nas diferentes localidades da Madeira.
Segundo o autor, a produção do linho artesanal desapareceu devido ao bordado, pois "enquanto netas ou as mães apenas bordavam, as avós é que fiavam. Está tudo dito, acabou nas avós", não sendo transmitido o conhecimento sobre a forma como era produzido às gerações mais jovens.
Em relação ao processo da lã, o autor madeirense confessou que "as ferramentas são poucas" e que "não há muita pista" sobre esses instrumentos, acrescentando, ainda, que o processo não é tão complexo como o do linho e que o procedimento para produzir lã "é igual em qualquer parte do mundo".