Governantes argelinos e espanhóis anunciaram, na quarta-feira, que as entregas de gás argelino a Portugal e Espanha iam deixar de usar o gasoduto que passa por Marrocos, passando a ser feitas exclusivamente pelo Medgaz, que já serve a península ibérica.
A Argélia abriu o Gasoduto Magrebe-Europa (Gaz Maghreb Europe – GME), em 01 de novembro de 1996, uma infraestrutura importante para a sua economia, mas também para a de Marrocos e essencial para Espanha, que, desde a inauguração do troço cordovês, em dezembro daquele mesmo ano, passou a receber 25% do seu suprimento de gás através daquela rota.
Um quarto de século depois, a Argélia decidiu fechá-lo, alegando motivos políticos e geoestratégicos de longo prazo que vão além do corte de relações com Marrocos, em agosto.
“A decisão da Argélia é soberana e é fruto [da rutura] das relações diplomáticas com o seu vizinho de Oeste [Marrocos]. É verdade que é um acontecimento inédito e veremos quais são as opções e as medidas paliativas para que a Argélia possa honrar seus compromissos com um cliente tradicional, que é a Espanha ", disse o analista económico e financeiro local Mahfud Kaubi à agência de notícias EFE.
A Argélia exporta cerca de 10.000 milhões de metros cúbicos de gás natural por ano para Espanha e Portugal, através do GME, um gasoduto que atravessa Marrocos, mas Argel decidiu não renovar este contrato devido à grave crise diplomática entre aqueles dois países.
O gasoduto de Medgaz já transporta gás argelino para a Península Ibérica desde 2011, mas opera já na sua capacidade máxima de 8.000 milhões de metros cúbicos por ano, ou seja, metade das exportações anuais da Argélia para Espanha e Portugal.
O assunto esteve, na quarta-feira, no centro das conversações entre a ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, e o ministro argelino das Minas e Energia, Mohamed Arkab.
Segundo a agência de notícias argelina APS, citada pela France-Presse, o ministro argelino tranquilizou os parceiros espanhóis assegurando que “a Argélia cumprirá todos os compromissos de fornecimento de gás através do gasoduto Medgaz”.
O fornecimento será assegurado, segundo o governante, através de um aumento de capacidade do Medgaz e de um aumento das exportações de gás natural liquefeito por via marítima.
A opção do gás liquefeito transportado em navios pode levar a um aumento do preço, já que as taxas de embarque são mais altas, o que pode ter impacto nas famílias, que já enfrentam a subida dos preços da eletricidade, gás e combustíveis.
Tradicionalmente difíceis, as relações entre a Argélia e Marrocos deterioraram-se nos últimos meses, principalmente devido à questão do Saara Ocidental, território que Rabat controla em cerca de 80%, mas onde Argel apoia os separatistas da Frente Polisário.