O piloto Timóteo Costa, com 26.000 horas de voo e 9.000 aterragens na Madeira, defendeu hoje que o aeroporto não devia ter "limites" de vento e considerou que a região está a ser "castigada" por "uma decisão burocrática".
Timóteo Costa, também instrutor e examinador, foi hoje ouvido em audição parlamentar na Comissão Especializada Permanente de Economia, Finanças e Turismo sobre a "Avaliação da Operacionalidade do Aeroporto Internacional da Madeira – Cristiano Ronaldo".
Distinguindo limitações – que diz que o aeroporto terá sempre – de limites obrigatórios, Timóteo Costa é de opinião que "os ventos têm influência quando realmente estão a afetar e não é por estar no papel".
Para Timóteo Costa, o comandante da aeronave é que tem de decidir se aterra ou descola em função da realidade com que é confrontado no momento e não em nome de limites obrigatórios, lembrando que o aeroporto da Madeira "é o único do mundo com limites obrigatórios" fixados "por pessoas sentadas em gabinetes".
"Estamos a castigar a Madeira e os madeirenses com uma pura decisão burocrática", disse aos deputados, manifestando a convicção de que "50 a 70% dos aviões que andam às voltas e vão embora, e nem sequer tentam aterrar, aterrariam em plena segurança".
Segundo o comandante, se deixarem de haver limites e apenas recomendações, essas 50 a 70% de aterragens que não são feitas hoje em dia "sejam feitas em plena segurança".
"O que eu rebato é a obrigatoriedade. Eu sou perfeitamente contra o limite obrigatório [que data de 1964 e que se mantém inalterado apesar das sucessivas expansões do aeroporto de 1.600 para 1.800 e 2.781 metros e das novas tecnologias entretanto introduzidas] e não das limitações que todos os pilotos têm que ser informados", afirma.
Timóteo Costa adianta que o Aeroporto Internacional da Madeira – Cristiano Ronaldo é "um brinquedo" se comparado com outros como o de Insbruck, Salzburgo, Gibraltar ou de La Palma.
A inoperacionalidade do Aeroporto da Madeira devido ao vento tem causado dezenas de cancelamentos desde o princípio deste ano.
A 4 de dezembro, o presidente da Autoridade Nacional de Aviação Civil, Luís Ribeiro, disse, no Funchal, que a revisão dos limites de vento no Aeroporto da Madeira é "legítima e sensata", mas garantiu que a decisão será técnica e nunca política.
"Achamos bem reequacionar a questão e a decisão será sempre técnica e não política", afirmou o responsável, no decurso de uma audição na Comissão de Economia, Finanças e Turismo da Assembleia Legislativa da Madeira sobre a "Avaliação da Operacionalidade do Aeroporto Internacional da Madeira – Cristiano Ronaldo".
A infraestrutura é a única do país em que os limites de vento, fixados em 1964, são obrigatórios e não recomendados, mas a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) já iniciou um estudo para avaliar a possibilidade de alterar a situação, que em 2017 afetou mais de 700 voos.
A comissão especializada, presidida pelo deputado do PSD Carlos Rodrigues, decidiu, a 20 de outubro e por unanimidade, ouvir várias entidades para avaliar a "operacionalidade" do aeroporto.
c/LUSA