"Não temos medo" e "há que estudar", gritavam os professores, alertando também que as autoridades escolares ponderam substituir os docentes por estudantes que terminaram o ensino secundário e que estão a receber formação ideológica.
"Não estou inativa e muito menos quando a educação do meu país se encontra numa emergência como esta. O ministro da Educação [Aristóbulo Isturiz], no ano passado, com uma medida que provoca fome, deixou sem efeito o contrato dos trabalhadores, com um salário que apenas dá para comprar um pão baguete", explicou Elsa Castilla.
Em declarações à agência Lusa, esta professora denunciou que os docentes estão a ser submetidos "à fome".
"Não nos pagam o seguro de hospitalização, nem funerário, não cumprem com o programa de alimentação dos estudantes, que desmaiam durante as aulas. E, quando lhes enviam comida, é apenas feijão e arroz sem sal e sem condimentos", lamentou.
"Viemos protestar porque ‘maquilharam’ uma escola de La Pastora para dar a entender que está a ser reinaugurada, [quando] a escola é mais velha que Matusalém (…) 50% das escolas estão no chão, com os lavabos estragados. Os salões estão sem luz elétrica e sem água", afirmou.
A professora denunciou ainda que os alunos estudam em condições infra-humanas e que com estes salários os professores não podem substituir a roupa, os sapatos e "muito menos comer".
"Hoje, quando tentámos ir até à vice-presidência da República, chegaram os coletivos [grupos armados afetos ao regime] em motos, disparando para o ar. Tivemos que proteger-nos. Isso é uma clara ameaça à nossa vida. Tinham armas longas e a Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) e a Polícia Nacional Bolivariana não faziam nada, estavam em conivência", frisou.
A mesma professora explicou que do Ministério saíram pessoas que fazem parte do programa estatal "Chamba Juvenil" (trabalho para jovens), que estão a frequentar cursos de formação com fins ideológicos.
Para Eduardo Sanchez, presidente da Federação de Trabalhadores Universitários, os professores são quem mais sofrem com a crise no país.
"Ganhamos dois dólares de salário mínimo (mensal). Por isso tivemos que sair a protestar. Mais de 2.500 trabalhadores do setor da educação saíram às ruas e foram reprimidos pela Guarda Nacional, pela polícia e pelos ‘coletivos’", disse.
No entanto, afirmou que este protesto foi "uma demonstração" de que não poderão intimidar os professores porque "têm força" e "não têm medo".
Yaneth Cazorla, da direção da Federação de Sindicatos do Colégio (equivalente à Ordem) de Licenciados em Educação, foi protestar para "denunciar perante o mundo e o país a deterioração na educação e a falta de qualidade de vida dos professores que ganham um salário pírrico", que fica aquém do contemplado na Constituição e na Lei Orgânica de Educação.
"É o Executivo quem promove a diáspora dos professores porque com esse salário não podem continuar [a viver no país]", enfatizou.
Junto à entrada do Ministério de Educação e contrariada com o protesto, Carmem Serpa declarou que é mãe e tem os filhos a estudar "graças ao Governo revolucionário, com uma educação gratuita e de qualidade".
"Há uns professores, já identificados, que no passado período escolar faltaram às aulas, com mentiras, com atestados médicos falsos. Eles apostam no fracasso e nós felicitamos o Presidente [Nicolás] Maduro, porque já começou o ano escolar no país (…) e os verdadeiros professores estão (…) a dar aulas", disse à Lusa.
Segundo Carmem Serpa, na Venezuela "há uma conspiração" em que "setores da direita usam os professores".
"Eles estão chateados porque já recolhemos as assinaturas [contra o bloqueio norte-americano] para entregar à ONU e porque Juan Guaidó (líder opositor) foi identificado com paramilitares", disse.
C/ LUSA