“Peço a Deus a reconciliação e a paz entre os venezuelanos. Gostaria de ir visitá-los, para pelo menos significar o meu acompanhamento neste caminho”, afirma.
O desejo foi transmitido num vídeo divulgado pela Conferência Episcopal Venezuelana, por ocasião da beatificação, que decorreu na Igreja do Colégio de La Salle, em Caracas, e foi transmitida em direto pelas televisões e rádios do país, usando o sinal da Vale TV, o canal local da Igreja Católica.
Na mensagem, em castelhano, o Papa manifestou ainda interesse e proximidade pela situação na Venezuela e explicou: “Tal como os meus irmãos bispos, conheço bem a situação que sofrem e estou consciente de que as vossas prolongadas dores e angústias se viram agravadas pela terrível pandemia da covid-19 que nos afeta a todos”.
“Tenho muito presente no dia de hoje, tantos mortos, tantos infetados pelo coronavírus que pagaram com a vida para manter as suas tarefas em condições precárias (…). Tenho também em mente todos os que deixaram o país em busca de melhores condições de vida e também os que estão privados da liberdade e os que carecem do que é mais necessário”, afirmou.
O Papa Francisco sublinhou ainda que todos os venezuelanos, "compatriotas do beato” José Gregório Hernández, “têm os mesmos direitos” e que, assim como conhece bem os sofrimentos, também conhece "a fé e as grandes esperanças do povo venezuelano”.
Por outro lado, pediu aos venezuelanos a procurarem a união do país, perante “todas as dificuldades” e que sigam o “admirável exemplo de serviço desinteressado” do novo beato.
“Acredito sinceramente que este momento de unidade nacional, em torno da figura do ‘médico do povo’, representa um momento singular para a Venezuela e exige que vocês vão mais longe, que deem passos concretos em favor da unidade, sem se deixar vencer pelo desânimo”, explica.
José Gregório Hernández nasceu a 26 de outubro de 1864, em Isnotú, no Estado de Trujillo, 700 quilómetros a sudoeste de Caracas, e morreu atropelado, em 29 de janeiro de 1919, em La Pastora, na capital venezuelana, pouco depois de ter saído de casa para visitar uma doente.
Autor de 13 ensaios científicos reconhecidos pela Academia de Medicina da Venezuela, José Gregório Hernández destacou-se no tratamento de doenças como a tuberculose, a pneumonia e a febre amarela, tal como nas áreas da patologia, da bacteriologia, da parasitologia e da fisiologia, tendo descoberto uma nova forma de angina de peito de origem palúdica.
Foi também um reconhecido professor que falava vários idiomas, incluindo português, espanhol, francês, alemão, inglês, italiano e latim.
Entre os milagres analisados pelo Vaticano está o de uma menina de 10 anos, Yaxury Solórzano, baleada na cabeça durante um assalto.
Com prognóstico reservado devido à perda de massa encefálica, a menina recuperou depois de a mãe ter feito um pedido a José Gregório Hernández.
Os restos mortais encontram-se na igreja de Nossa Senhora de La Candelária, criada por imigrantes das Ilhas Canárias, em La Candelária, na capital venezuelana, uma zona com significativa presença de emigrantes portugueses.
De acordo com a imprensa venezuelana, são atribuídos ao "médico dos pobres" mais de 2.100 casos de cura.