A Autoridade Independente de Comunicações da África do Sul (Icasa, na sigla em inglês) adiantou, em comunicado divulgado na página de internet, que quatro estações de rádio comunitárias em Durban, Pretória e Joanesburgo, “para mencionar apenas algumas”, foram igualmente saqueadas e vandalizadas.
De acordo com o Icasa, “a violência, saques e incêndios criminosos no país resultaram na interrupção dos serviços de comunicação e no encerramento de rádios comunitárias”.
"Qualquer interrupção dos serviços de comunicação pode ser desastrosa e resultar no aumento da mortalidade, visto que as chamadas de emergência podem ser afetadas diretamente", advertiu a autoridade reguladora do setor das telecomunicações, rádio e televisão da África do Sul.
Além das torres de telecomunicações, pelo menos 200 centros comerciais foram saqueados e vandalizados nos últimos dias em várias cidades do país, relatou a imprensa sul-africana, acrescentando que armazéns de distribuição e fábricas foram também afetados.
A refinaria de petróleo, na cidade portuária de Durban, anunciou na terça-feira o encerramento a partir de hoje das suas operações de abastecimento de combustível devido ao corte de vias rodoviárias estratégicas e à situação de elevada insegurança no país.
O Governo sul-africano destacou 2.500 militares para apoiar a polícia a conter os distúrbios na província de origem de Zuma, KwaZulu-Natal, assim como em Gauteng, o motor da economia do país. Mas os protestos estendem-se a várias outras cidades da África do Sul, nomeadamente à Cidade do Cabo, onde vivem mais de 30.000 portugueses.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que se reúne hoje com líderes dos partidos políticos, está a ser pressionado para declarar o estado de emergência no país, enfrentando críticas de vários quadrantes pela “demora” e “incapacidade” do Governo e das forças de segurança em restaurar a lei e ordem na África do Sul.
Os motins violentos, saques e intimidação, que eclodiram na quinta-feira na província litoral do KwaZulu-Natal, prosseguem pelo sétimo dia consecutivo apesar da presença do exército no reforço aos meios policiais nas últimas 24 horas.
No KwaZulu-Natal, onde se estima que vivam 20.000 portugueses, pelo menos três negócios de portugueses foram saqueados e vandalizados, disse à Lusa o cônsul honorário Elias de Sousa.
Em Gauteng, onde residem mais de 200 mil portugueses, pelo menos seis grandes superfícies de empresários filhos de madeirenses foram também saqueadas e vandalizadas, relatou um comerciante português à Lusa.
O embaixador de Portugal na África do Sul, Manuel Carvalho, instou na terça-feira os cerca de 450 mil portugueses residentes no país a “ficarem em casa” e a comunicar casos de emergência e de assistência consular ao Gabinete de Emergência Consular em Lisboa.
Em declarações à Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, afirmou que os serviços diplomáticos na África do Sul estão focados no apoio aos portugueses e voltou a pedir cautela à comunidade.
“Espero que os acontecimentos que estão hoje a afligir a África do Sul terminem o mais depressa possível”, afirmou Augusto Santos Silva à Lusa, confiando que a normalidade regresse.
Vários órgãos de comunicação social sul-africanos relataram que a população civil se armou com armas de fogo, alguns até com espingardas automáticas e semiautomáticas, bloqueando acessos a bairros e montando “postos de controlo” para proteger negócios, residências e comunidades.
Pelo menos 72 pessoas morreram e mais de 1.200 foram presas pelas autoridades em incidentes de violência, saques e intimidação, que se alastram agora desde o Cabo do Norte à província de Mpumalanga, vizinha a Moçambique, segundo a polícia sul-africana.
O abastecimento de alimentos e combustível em partes de Joanesburgo começou a escassear no final de terça-feira.