Pelas 08:30, pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção de aeronaves, maioritariamente fardados ou vestidos de preto e branco, começaram a concentrar-se na praça do Campo Pequeno, de onde seguiram em silêncio para o Ministério liderado por Pedro Nuno Santos, que fica próximo do local, onde vão entregar uma carta.
Entre os cartazes levados pelos trabalhadores leem-se frases como "se agora contratam a peso de ouro, porque é que despediram?", ou "os despedimentos na TAP saem caros a todos".
O protesto foi convocado pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e o Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA), numa ação que dizem ser inédita.
O objetivo "é a melhoria contínua da qualidade do serviço que presta aos seus clientes e a sustentabilidade da própria empresa, mantendo os elevados padrões de segurança da operação pelos quais fomos sempre reconhecidos", dizem.
"Os trabalhadores e os passageiros estão juntos quando viajam e estão juntos nesta luta pelo alinhamento entre as opções de gestão e aquilo que o país necessita da TAP", dizem os três sindicatos, afirmando ainda que "os aviões [da TAP] não voam sem pilotos, sem pessoal de cabine e sem uma boa manutenção nem chegam a sair do chão".
Após terem entrado no Ministério para a entrega de um manifesto dirigido a Pedro Nuno Santos, ao som de palmas e assobios dos trabalhadores que encheram a Rua Barbosa do Bocage, os líderes dos três sindicatos prestaram declarações à comunicação social, para reiterar as acusações que têm vindo a fazer à gestão.
"Aquilo que nós queremos é que, efetivamente, desta vez seja aproveitada esta reestruturação para fazer da TAP aquilo que ela merece ser: uma empresa competitiva, uma empresa que aporte um valor ao país e à economia nacional e que, basicamente, possamos utilizar a TAP ao longo do tempo, mas que a TAP não seja um peso para os contribuintes", afirmou o dirigente do SITEMA, Paulo Manso, que já passou por outra reestruturação da companhia aérea, em 1994, "idêntica a esta" e cujos resultados "não foram bons".
Para Paulo Manso, os problemas da TAP não se resolvem com despedimentos, mas sim com "uma reestruturação feita como deve de ser, envolvendo os trabalhadores" e que, "acima de tudo, na parte da gestão, sejam tomadas medidas racionais".
O representante dos técnicos de manutenção de aeronaves disse ainda que está a ser desperdiçado dinheiro "todos os dias" e que os passageiros não estão a ser devidamente tratados, o que leva a que os sindicatos não vejam "com bons olhos o rumo que a TAP está a tomar".
Já Tiago Faria Lopes, do SPAC, referiu uma "gestão desastrosa" e reiterou que os acordos de emergência assinados com todos os sindicatos que representam os trabalhadores da TAP, que permitiram a aplicação do plano de reestruturação e que inclui cortes salariais, "já não fazem sentido nenhum neste momento".
"Esta gestão não faz um único ato que nós consigamos dizer que ‘sim senhora, foi um bom ato de gestão’. Não o está a fazer, não o fez e temos dúvidas que assim o fará", afirmou o representante dos pilotos.
Questionado sobre o comunicado enviado pela TAP, esta manhã, onde repudiou "a constante tentativa de ataques à sua credibilidade e competência" e acusou os sindicatos de dialogar através de comunicados, o dirigente do SNPVAC, Ricardo Penarroias, sublinhou a ironia das declarações, uma vez que, disse, foi através da comunicação social que os sindicatos souberam da mudança da sede, ou da intenção de denunciar os acordos de empresa.
"Se o SNPVAC e o SPAC não tivessem assinado o acordo de emergência, como teria feito a TAP com menos 750 tripulantes de cabine, num despedimento coletivo? Com menos 500 pilotos? Como é que a companhia teria sobrevivido? Teríamos aquela ‘TAPzinha’ que o senhor ministro nunca quis, mas afinal é o que temos?", questionou o representante dos tripulantes de cabine.