A descoberta foi feita num terreno de 600 hectares no extremo sudoeste de Espanha, perto de Ayamonte, nas margens do rio Guadiana a 15 quilómetros da costa, e as primeiras conclusões das explorações arqueológicas, iniciadas em 2021, foram publicadas recentemente na revista espanhola especializada Trabajos de Prehistoria, num artigo assinado por seis investigadores envolvidos no projeto.
"Esta descoberta fornece novos argumentos que reforçam as interpretações do megalitismo atlântico como um dos mais antigos fenómenos encaminhados à transformação e ‘antropização’ [transformação da natureza pelo homem] dos territórios", lê-se no artigo.
Os elementos culturais (construídos pelo homem) mais antigos encontrados devem remontar ao século VI ou V antes de Cristo, segundo o mesmo texto, que refere que a maioria tem "aspeto tosco e aparência simples", que "a fusão entre o natural e o antrópico" dá ao local "um caráter próprio" e que "as arquiteturas em pedra e outras manifestações" remetem para "etapas cronológicas diferentes", "coexistindo monumentos com funções e tradições técnicas diferentes".
Entre essas funções estariam a delimitação territorial, a observação astronómica ou rituais associados à morte e ao conhecimento e controlo das estações do ano.
Para os antropólogos à frente destes trabalhos, a propriedade de Torre – La Janera, onde foi feita esta descoberta, "é um sítio único até agora na Península Ibérica".
Em declarações à Lusa, a arqueóloga Primitiva Bueno-Ramírez explicou que, "para começar, a importância do sítio deve-se a três aspetos, todos eles pouco comuns no resto de sítios megalíticos europeus e ainda menos comuns no extremo sul ocidental da Europa".
Os "três aspetos" são "a quantidade" de descobertas, a "sua magnífica conservação" e "o facto de dólmenes [túmulos] , alinhamentos e cromeleques aparecerem em conjunto", acrescentou.
"Os dólmenes aparecem normalmente a formar necrópoles e constituem as arquiteturas mais comuns em sítios megalíticos europeus. Em alguns sítios aparecem com alinhamentos, como em Carnac, França, ou na zona dos Alpes suíços e italianos. Noutros sítios, aparecem com cromeleques, como no conjunto português de Évora [cromeleque de Almendres] . Em La Janera, as necrópoles megalíticas estão associadas a alinhamentos e cromeleques", explicou Primitiva Bueno-Ramírez, professora e investigadora da Universidade de Alcalá de Henares.
Em paralelo, este local "reúne um dos maiores números de arquiteturas megalíticas em proporção à sua extensão em toda a Europa".
A exploração arqueológica foi feita a pedido do governo regional da Andaluzia, que tinha pendente uma resposta a um pedido dos proprietários do terreno para ser ali instalada uma plantação para produção de abacates.
Como já existia a suspeita de haver interesse arqueológico naquela área, o governo andaluz pediu uma exploração do terreno a especialistas antes de decidir sobre os abacates e perante as evidências preliminares, avançou com um projeto de investigação, que arrancou em 2021 e deve terminar em 2027.
"Há ainda terreno por explorar" e é "muito possível" que aumente o número de descobertas, disse à Lusa Primitiva Bueno-Ramírez, que é uma das arqueólogas responsáveis por este projeto de investigação.
Fazem parte desta equipa especialistas e investigadores das universidades espanholas de Alcalá, Huelva, Córdova, Sevilha, Granada, Cantábria e Complutense; da agência espanhola dedicada à ciência CSIC (Conselho Superior de Investigações Científicas); da Universidade de Tubingen, na Alemanha; e da Universidade do Algarve, em Portugal.