As acusações de mau funcionamento do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM) feitas pelo coordenador da medicina nuclear, Rafael Macedo, perturbaram o setor, gerando "alarmismo e falta de confiança" na população, disse hoje a presidente do conselho de administração.
"Viveram-se momentos muito tristes no SESARAM, em que pela primeira vez, no tempo que lá estou [desde janeiro de 2017], vi médicos a lamentar o que outros seus pares afirmaram da sua atividade", afirmou Tomásia Alves, em audição parlamentar na Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear.
A responsável esclareceu que Rafael Macedo foi suspenso e alvo de processo disciplinar não apenas pelas declarações que fez numa reportagem da TVI e depois na comissão de inquérito, mas também na sequência de faltas injustificadas e de denúncias que publicou numa rede social nos últimos meses.
"O processo disciplinar não acontece de um dia para o outro, é um processo contínuo", disse Tomásia Alves, vincando que a administração do SESARAM remeteu queixas contra o médico para três entidades: Ministério Público, Ordem dos Médicos e Comissão de Ética do Serviço de Saúde.
Por outro lado, garantiu que o coordenador e único especialista da Unidade de Medicina Nuclear nunca lhe transmitiu oficialmente qualquer denúncia ou acusação sobre a atividade e a relação com os seus pares, manifestando-se sempre empenhado em colocar a unidade a funcionar.
A Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do SESARAM foi constituída a pedido do PSD, partido da maioria, após uma reportagem da TVI, emitida em fevereiro.
A investigação jornalística concluiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada instalada na região em 2009, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada".
Rafael Macedo foi um dos protagonistas da reportagem e mais tarde, a 20 de março, foi ouvido na comissão de inquérito, onde afirmou que "alguns colegas são negligentes", quer no setor público como no privado, acusando-os de fornecerem tratamentos que "não são adequados" e apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.
O médico sublinhou em particular os serviços de Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia, afirmando que funcionam "muito mal" e, por outro lado, disse que havia "desvio deliberado" de doentes para o setor privado.
"Criou-se um sentimento de insatisfação e de grande frustração [no corpo médico do SESARAM] por um dos pares estar a pôr em causa o seu trabalho e um grande sentimento de injustiça", afirmou Tomásia Alves, sublinhando também o "alarmismo e a falta de confiança" gerados ao nível dos utentes.
A responsável indicou, por outro lado, que Rafael Macedo é "muito empenhado na apresentação de projetos", como foi o caso da Unidade de Medicina Nuclear, mas depois tem "alguma dificuldade" em pô-los em prática e obedecer às regras e procedimentos estabelecidos.
"Está suspenso e vamos deixar correr o processo de uma forma calma e com serenidade", afirmou Tomásia Alves, realçando que o médico terá oportunidade de "repensar o seu posicionamento e retratar-se", embora admita que poderá ter problemas em reconquistar a confiança dos seus pares.
LUSA