Gouveia e Melo esteve na Escola Secundária Alves Martins (ESAM), antigo Liceu de Viseu, onde estudou em 1975/76 quando regressou de África por ter ido viver com uma tia-avó em Viseu.
“Sinto quase que uma viagem na minha história pessoal e quero tentar contar-vos, através da minha história, a importância que os senhores têm, enquanto professores, e enquanto futuro do país”, destacou.
O vice-almirante falava para dezenas de professores, a convite da ESAM, para assinalar o início do novo ano escolar e, onde regressou 44 anos depois e visitou pontos da escola onde estudou “num período muito especial” da sua vida pelo regresso de África e a separação dos pais.
“Fui excecionalmente bem recebido, integrei-me imediatamente e fiz logo uma data de amigos e recomecei a vida outra vez. (…) Foi o primeiro sítio onde voltei a sentir-me verdadeiramente português, regressado ao território pátria, porque tinha vivido sempre fora e foi muito interessante e contribuiu imenso para voltar a integrar-me e continuar a caminhar, era um miúdo”, disse aos jornalistas.
Às dezenas de professores que o aguardavam no ginásio, Gouveia e Melo falou da “vida um pouco desarticulada” que a família viveu no regresso de África, em que os pais ficaram em Lisboa e ele foi “mandado para casa de uma tia-avó” quase um ano, em que frequentou o quarto ano do liceu, atual oitavo ano de escolaridade.
Gouveia e Melo lembrou a “senhora muito simpática, mas tia-avó” e ele um jovem de 15 anos “confuso” e recordou o sentimento de “estar dentro de uma máquina de lavar” que tanto a ele como à sua família o “enrolava” sem que tivessem “o mínimo controlo sobre os destinos”.
“E vim encontrar paz aqui, neste Liceu. Essa paz foi-me transmitida, muito pelos professores e é isso que vos quero dizer enquanto professores. Os senhores são o verdadeiro fermento da evolução, a farinha são os alunos”, comparou por entre aplausos.
Gouveia e Melo disse aos professores que, apesar de acabarem por recordar três ou quatro alunos, "os alunos lembram-se de todos" os professores.
“O vosso exemplo de ética, de paciência, a estrutura que nos conferem, quando somos jovens, ajudando na educação que temos em casa e completando essa educação de casa. Os senhores são dos fatores mais relevantes da sociedade e devem ter orgulho disso e sentirem isso”, sublinhou.
O vice-almirante deu o seu exemplo de quando o questionam sobre a sua escolha profissional, lembrando que “discutem-se ordenados e isso”, mas “só queria ser militar para sentir que fazia parte de um processo e que tinha um papel relevante nesse processo”.
“Os senhores têm esse papel. São muito úteis e são a levedura do futuro desta sociedade. A educação é o futuro de qualquer sociedade e basta olhar para a história e perceber isso”, apontou.
Assinalando o início do ano escolar, deixou o desejo de que os professores “consigam ser essa levedura que vai fazer um pão muito maior, com os ingredientes que já existem, que são os alunos”.
“Que os senhores consigam fazer aquilo que os professores que estavam na altura, em [19]75 aqui fizeram que foi fazer homens e mulheres que, no futuro, possam também contribuir de forma positiva e dar de volta o que recebemos nesse período”, concluiu.
Assumiu que o que viveu hoje na ESAM o “vai marcar para o resto da vida” e, à escola falou “de coração” e deixou de prenda o símbolo que carrega na farda militar, no braço direito, desde que lidera a ‘task-force’, a hidra de três cabeças.
Da ESAM, levou uma cópia do seu processo escolar, que o diretor, Adelino Azevedo Pinto, lhe ofereceu e a vivência de “ter voltado a passar os portões do Liceu”, já que admitiu ter estado à porta do edifício em 2017, na altura dos incêndios que assolaram na região Centro, e no qual também teve um papel ativo.
“Nessa altura passei aqui pela cidade e quis vir ver o meu Liceu e pedi ao meu condutor para me encontrar o Liceu. Estive ali à porta, a porta tinha umas grades e fiquei ali a contemplar um sítio que me dizia muito em termos de amor e hoje consegui entrar por essa porta, fruto do vosso convite”.
Entrou e visitou a biblioteca, o refeitório “onde antes era só um bar”, as arcadas onde eram passados os intervalos, assim como uma sala de aulas, com as carteiras corridas de madeira, como na altura em que foi estudante e onde fez questão de se voltar a sentar.