O presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, Julio Borges, afirmou hoje em Estrasburgo (França), ao receber o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento no Parlamento Europeu (PE), que a distinção “é um prémio para todos os venezuelanos”.
A distinção, entregue pelo PE desde 1988, foi atribuída este ano à oposição democrática venezuelana.
“Este prémio é para uma Venezuela inteira e unida”, disse Julio Borges, num discurso em que quis honrar em especial “os 157 jovens assassinados pela repressão brutal do governo” de Nicolas Maduro em “protestos pacíficos”.
Ao lado de Borges em Estrasburgo esteve o ex-presidente da câmara de Caracas Antonio Ledezma e alguns familiares de opositores, como foi o caso dos pais de Leopoldo Lopez, que permanece em prisão domiciliária.
Na intervenção, Julio Borges relatou os “infortúnios” de “milhões de pessoas” na Venezuela por causa do empobrecimento económico e social, situação que, segundo frisou o representante, foi criada pelo regime de Maduro.
A atuação do governo de Maduro faz com que “muitos [venezuelanos] tenham de ir ao lixo procurar comida”, frisou.
O presidente da Assembleia Nacional Venezuelana também disse que, apesar dos “tempos difíceis”, a oposição democrática “também tem esperança”, especialmente no que diz respeito ao regresso dos exilados e à libertação dos presos políticos.
Borges insistiu na importância da pressão internacional e salientou que o país deve realizar eleições livres "o mais rápido possível", de forma a que a Venezuela "volte ao caminho democrático".
Para tal, Julio Borges afirmou que pediu formalmente “uma missão eleitoral do Parlamento Europeu” para acompanhar o eventual escrutínio.
O ex-presidente da câmara de Caracas Antonio Ledezma também falou e assegurou que o Prémio Sakharov “reforça e dá energias a todos os venezuelanos que lutam pela democracia no mundo”.
Perante o Parlamento Europeu, Ledezma chamou a atenção para a existência de fome num país “tão rico, com tantos recursos” e denunciou que “aqueles que reprimem o povo venezuelano estão relacionados com o tráfico de drogas e com o terrorismo (…) e têm mais de 600.000 milhões de dólares em paraísos fiscais”.
Numa breve mensagem escrita lida na câmara europeia, Leopoldo Lopez pediu que “a Europa seja firme no compromisso de alcançar a liberdade de 300 presos e de milhões de venezuelanos que não respiram liberdade”.
A cerimónia de entrega do galardão foi marcada pela ausência de cerca de 20 eurodeputados da Esquerda Unitária Europeia, que criticaram o uso “político” da edição deste ano do prémio.
A Venezuela enfrenta há vários meses a sua pior crise política, económica e social desde há décadas.
Em 2016, o Prémio Sakharov foi atribuído a Nadia Murad Basee e Lamiya Aji Bashar, duas mulheres que foram escravizadas sexualmente pelo grupo extremista Estado Islâmico durante meses.
LUSA