O antigo presidente da Câmara Municipal de Paredes Celso Ferreira e o empresário português Mário Rocha foram condecorados com o Colar da Ordem da Liberdade pelo chefe de Estado, José Ramos-Horta.
À Lusa, Ferreira recordou que o projeto que começou a ser implementado em 2007 pretendia instalar uma escola industrial em Baucau, a segunda cidade do país.
“O nível de participação das empresas de Paredes a quem pedimos equipamentos foi tão grande que conseguimos recolher 28 máquinas, o que levou a que a diocese tivesse de aumentar os pavilhões previsto para este projeto para 1.500 metros quadrados”, afirmou.
Pela fábrica “passaram centenas de timorenses a aprender a trabalhar a indústria da madeira e do mobiliário”, sublinhou.
Durante a visita a Díli confirmou terem-lhe sido apresentadas solicitações, incluindo de José Ramos-Horta, para novos apoios, algo a que Celso Ferreira se comprometeu.
“O senhor Presidente também nos pediu para ajudarmos de novo, e vamos com certeza. Aquela fábrica que ali está, aquela escola industrial que ali está é uma cana de pesca para que os timorenses possam adquirir competências e procurarem profissões num setor que é interessantíssimo”, disse.
Palavras ecoadas por Mário Rocha que recordou o apoio ao projeto do padre Feliciano Garcês, e do falecido bispo Basílio do Nascimento.
“Hoje fui eu e o Celso Ferreira condecorados por este projeto, (…) mas estiveram mais pessoas, como foi o caso do padre Feliciano Garcês, e também um conjunto de empresários do concelho de Paredes que contribuíram direta e indiretamente para que este projeto fosse uma realidade”, afirmou.
Outro dos condecorados foi John Waddingham, responsável por um dos maiores arquivos sobre Timor-Leste, a Clearing House for Archival Records on Timor (CHART).
“O tamanho [do arquivo] ainda não está determinado. Fomos trabalhando ao longo de 20 anos e ainda temos pessoas a virem ter connosco a perguntar: ‘quer dar uma vista de olhos às minhas caixas?’. Nunca acaba. Vou morrer antes de isto estar terminado”, disse à Lusa.
“O que estamos a fazer é a tentar ter a certeza de que o que quer que exista na Austrália sobreviva. Não estamos a fazer necessariamente apenas um único arquivo, estamos a encorajar os proprietários a colocarem o seu material num repositório público para que a longo prazo as pessoas possam ter acesso”, explicou.
A organização australiana foi criada “para garantir a preservação a longo prazo e o acesso a registos documentais sobre a história de Timor-Leste no período 1974-1999”, com um trabalho de localização de arquivos públicos ou privados sobre Timor-Leste e de encorajamento aos seus proprietários para a sua preservação.
A CHART leva ainda a cabo um processo de digitalização de documentos, para o seu acesso ‘online’.
“Algum desse material virá para Timor, muito não virá, mas o nosso trabalho passa por fazer cópias digitais, de forma que possam ser partilhadas com as instituições timorenses”, explicou.
“Sabemos que o nosso trabalho é reconhecido, mas acreditamos que vão ser as futuras gerações que vão realmente apreciar o que nós e outros fizemos para que se assegurasse de que os registos sejam preservados e sobrevivam. Penso que não será apenas a atual geração, mas a futura geração”, afirmou.
Durante a cerimónia de hoje, o chefe de Estado condecorou e reconheceu mais de uma centena de pessoas, incluindo o advogado australiano Bernard Collaery, que foi acusado durante anos pelo Governo australiano – a acusação foi retirada em 2022 – de comunicação ilegal de informações dos serviços secretos australianos no polémico caso de espionagem a Timor-Leste.
O presidente do Pelican Paradise Group, Edward Ong – que está a realizar um investimento significativo em Timor-Leste –, o cônsul honorário do México em Díli, o brasileiro Ivanildo Quirino do Nascimento, e o ex-primeiro-ministro de Victoria e atual enviado especial do Governo australiano para o projeto do Greater Sunrise, Steve Bracks, foram igualmente condecorados.
Entre os timorenses condecorados com o grau de Colar destaca-se o capitão-de-mar-e-guerra Donanciano da Costa Gomes, o padre Domingos Maubere, uma das principais vozes da igreja na luta contra a ocupação indonésia, e o ex-comandante da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) Faustino da Costa.
No decreto de atribuição das condecorações, José Ramos-Horta referiu que os cidadãos estrangeiros reconhecidos “desempenharam atividades incansavelmente a favor” de Timor-Leste e do desenvolvimento.
“Os serviços prestados pelos nossos amigos estrangeiros, no âmbito de relações entre Estados, no sentido de promover amizade entre povos, são cruciais, contribuindo também para a paz, a estabilidade nacional e o desenvolvimento em Timor-Leste”, salientou.
“Timor-Leste conseguiu ultrapassar diversos desafios e alcançar alguns sucessos, em determinadas áreas de desenvolvimento, graças também a uma série de atividades realizadas pelos nossos amigos estrangeiros durante as suas missões de trabalho no nosso país e fora do nosso país”, notou.
A medalha da Ordem de Timor-Leste foi entregue a 43 cidadãos timorenses e estrangeiros, incluindo religiosos, agentes policiais e militares, alguns dos principais empresários do país e jornalistas.
Criada em 2009, a Ordem de Timor-Leste pretende, “com prestígio e dignidade, demonstrar o reconhecimento de Timor-Leste por aqueles, nacionais e estrangeiros que, na sua atividade profissional, social ou mesmo num ato espontâneo de heroicidade ou altruísmo, tenham contribuído significativamente em benefício de Timor-Leste, dos timorenses ou da humanidade”.
A Medalha de Mérito visa “reconhecer e agradecer aos militares, polícias e civis, nacionais e internacionais, que serviram a nação timorense em prol do reforço da ordem social e cujas ações contribuíram de modo significativo para a paz e a estabilidade nacional”.
A medalha simboliza ainda “a gratidão para com os nacionais e aqueles que, de várias partes do mundo, desempenharam um papel ativo e crucial no desenvolvimento da democracia em Timor-Leste”.
Lusa