“Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para as políticas de assimilação cultural que, no passado, atingiram gravemente, de várias formas, as comunidades nativas”, assumiu Francisco, no Vaticano, falando após a recitação da oração do ângelus.
A viagem acontece menos de um mês depois de o Papa ter adiado a visita à República Democrática do Congo e Sudão do Sul, devido a problemas num joelho; após várias semanas a deslocar-se em cadeira de rodas, o pontífice começou recentemente a caminhar com a ajuda de uma bengala.
“Preparo-me para cumprir uma peregrinação penitencial, esperando que, com a graça de Deus, possa contribuir para o caminho de cura e reconciliação já iniciado”.”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
Caros irmãos e irmãs do Canadá, como sabeis irei até vós, em nome de Jesus, sobretudo para me encontrar e abraçar as populações indígenas”.
O programa no Canadá inclui encontros com várias comunidades indígenas e antigos alunos das Escolas Residenciais.
O Papa recebeu este ano, no Vaticano, alguns grupos de representantes de povos indígenas, aos quais manifestou “dor e solidariedade pelo mal que sofreram”.
“Agradeço, desde já, por todo o trabalho de preparação e pelo acolhimento que me reservareis. Obrigado a todos. Peço, por favor, que me acompanheis com a oração”, concluiu.
No final de março e abril, o Papa esteve com delegações de indígenas Métis Manitoba, Métis, Inuit e Primeira Nação, do Canadá.
Nesses encontros, Francisco pediu “perdão” pelo envolvimento dos católicos na gestão de escolas residenciais para povos indígenas, confessando “indignação e vergonha”.
“Pela deplorável conduta de alguns católicos, peço perdão a Deus. Quero dizer-vos de todo o coração: estou muito entristecido. Uno-me aos bispos canadianos, para pedir-vos perdão”, referiu.
Em 2021 foram descobertas centenas de sepulturas anónimas junto de antigas escolas residenciais indígenas; várias destas instituições pertenciam à rede de escolas administrada pela Igreja Católica, destinadas à “reeducação” de crianças indígenas, com o apoio do Governo canadiano.
“Reconhecemos os graves abusos cometidos por alguns membros de nossa comunidade católica: físicos, psicológicos, emocionais, espirituais, culturais e sexuais. Reconhecemos igualmente, com tristeza, o trauma histórico e contínuo, bem como o legado de sofrimento e os desafios que perduram até hoje para os povos indígenas”, indicava o comunicado dos bispos católicos do Canadá, dirigido aos povos indígenas (Primeiras Nações).
A nota admitia que o sistema implementado nestes internatos, nos séculos XIX e XX, “levou à supressão das línguas, cultura e espiritualidade autóctones, sem respeitar a rica história, tradições e sabedoria dos povos indígenas”.
Em 2015, após sete anos de pesquisa, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de 3 mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.