“O esforço [de retirar os sem-abrigo das ruas] que eu até tinha apontado para 2023, a crise da pandemia veio estragar as contas, porque piorou brutalmente o panorama. O que havia antes piorou muitíssimo nestes dois anos e [apesar da] recuperação, que já houve, ainda não estamos nos números anteriores à pandemia, ainda estamos acima”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado falava durante uma visita à casa de Manuel Fernandes, antigo sem-abrigo que viveu debaixo de uma ponte no Porto, e que, após a sua situação ter sido tornada pública e ter recebido inclusive a visita do Presidente da República, viu ser-lhe encontrada uma solução, vivendo desde dezembro de 2020 numa habitação na freguesia da Campanhã, no Porto.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o caso de Manuel Fernandes é “um bom exemplo" do papel da comunicação social para alertar para casos semelhantes, e importante porque “dá esperança”.
“Às vezes pode ser uma esperança enganadora, mas dá a esperança a muitos outros e responsabiliza aqueles devem ser responsabilizados”, apontou.
O Presidente da República destacou que a comunicação social deve “cobrir em permanência estes problemas e dramas sociais” para depois as autarquias e associações poderem intervir.
“Isto é um exemplo da luta dele [Manuel Fernandes] do papel da comunicação social e daquilo que se deseja não para uma pessoa. mas para milhares de pessoas. Isso passa pelo plano nacional, passa pelo papel das câmaras e das freguesias mas as Câmaras é que têm de ter, conjuntamente com o Estado, políticas de habitação”, vincou.
Marcelo Rebelou de Sousa referiu que sem uma casa, para depois começar a frequentar cursos de formação e refazer a vida, é “muito difícil sair da rua”.
O chefe de Estado lembrou que há o compromisso de várias autarquias, sobretudo as maiores, de aumentarem a construção de casas, mas apontou também que o problema não se esgota em ter um teto.
“Depois há [problemas de] saúde, em muitos casos, Depois há problemas de emprego. Felizmente não é o caso de Manuel Fernandes, mas há outros casos em que existem problemas de dependências com o álcool ou droga. Isto implica muitos esforços conjuntos, de muitas instituições”, analisou.
Com a meta de retirar os sem-abrigo das ruas até 2023 fora de hipótese, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que uma nova data está a ser discutida na nova estratégia.
“Pensa-se que pode haver um atraso de uns três ou quatro anos, o que é um atraso muito grande, sobretudo se pensarmos que a maioria não é jovem”, atirou.
Apesar da pandemia ter resultado em desemprego para trabalhadores precários que ficaram sem casa, a grande maioria dos sem-abrigo já pessoas já com alguma idade, sobretudo entre os 60 e 70 anos, acrescentou.
Sobre o papel da Segurança Social no caso dos sem-abrigo, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que essa é “uma preocupação” e que esta instituição “tem uma responsabilidade grande de estar no terreno, em contacto e em informação”.
“Há que dizer que melhorou durante a parte pior da pandemia, porque houve situações extremas de criar centros de acolhimento e ter centros de acolhimento como acontece às vezes em situações extremas de temperatura à noite. E aí houve um esforço até das próprias Forças Armadas. Agora no dia-a-dia é preciso primeiro dar resposta a problemas básicos da vida das pessoas e depois pensar em fazê-las sair dali”, concluiu.