O padre Martins Júnior disse hoje que a revogação da suspensão ‘a divinis’ (proibição de exercer os sacramentos) a que foi submetido há 42 anos pelo então bispo do Funchal é uma “boa nova”, sobretudo para a Ribeira Seca.
"Foi uma boa nova, sobretudo para esta comunidade da Ribeira Seca e também, acho, para a história da Igreja na Madeira porque, depois de vários anos, houve um bispo que tomou nas mãos as rédeas desta embarcação chamada Diocese do Funchal", disse à agência Lusa.
Uma nota da Diocese do Funchal emitida no domingo dá conta do decreto eclesiástico que levantou a suspensão ‘a divinis’ ao padre Martins Júnior.
"No dia 27 de julho de 1977, o bispo D. Francisco Santana, decretou a suspensão ‘a divinis’ do reverendo Padre Martins Júnior. Tendo em consideração que, passados estes anos, as razões primeiras que levaram à aplicação e manutenção dessa pena deixaram de existir, o Bispo do Funchal, depois de ouvido o reverendo Padre Martins Júnior e os Conselhos Episcopal e dos Consultores, decidiu revogar a referida pena de suspensão", lê-se na nota.
A nota dá conta ainda que "o reverendo Padre Martins Júnior foi nomeado na mesma ocasião Administrador Paroquial da Ribeira Seca", anunciando que o bispo do Funchal, D. Nuno Brás, visitará a paróquia no dia 14 de julho às 17:00.
Para o padre Martins Júnior, o bispo do Funchal “acionou o botão necessário para que se fizesse mais luz e menos trevas, que se fizesse mais justiça e menos abusos e arbitrariedades por parte da autoridade".
Lembrou que a sua suspensão ‘a divinis’ foi "um embuste”, numa época em que a Igreja estava “ao serviço da prepotência política” e tratou o povo da Ribeira Seca “como se fosse um trapo", negando-lhe os crismas e os restantes sacramentos.
"A suspensão ‘a divinis’ exige um processo formado com direito ao contraditório, é algo muito pesado, não é um 31, não é paga lá, dá cá", observou.
Questionado se o tempo do Papa Francisco está também a chegar à Madeira, Martins Júnior foi imediato: "acho que sim".
A revogação da suspensão ‘a divinis’ do padre Martins Júnior começou a produzir efeitos desde domingo.
Martins Júnior foi também presidente da Câmara Municipal de Machico pela UDP (1989) e pelo PS (1993) e deputado na Assembleia da Madeira.
O bispo Francisco Santana retirou-lhe, em 1974, a paróquia da Ribeira Seca por ter recusado entregar a chave da igreja. Essa situação levou à sua suspensão ‘a divinis’, três anos mais tarde.
Contudo, desafiando a diocese, o sacerdote continuou a celebrar missa porque "o povo assim quis", conforme disse à agência Lusa em 2016.
Em 2010, a diocese do Funchal também proibiu a visita da imagem peregrina de Fátima à igreja da Ribeira Seca por a mesma estar "indevidamente ocupada", por um padre suspenso ‘a divinis’.
Quando tomou conta da diocese do Funchal este ano, o novo bispo, D. Nuno Brás, declarou que ia dar atenção aos "casos particulares e pessoais" existentes na igreja madeirense.
"Hão de ser tratados particularmente e pessoalmente", disse, então, o prelado madeirense.
LUSA