Desse total de violações graves, 24.300 foram efetivamente cometidas em 2022 e 2.880 anteriormente, mas verificadas apenas no ano passado, segundo o relatório anual do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre crianças e conflitos armados.
As conclusões do relatório foram hoje apresentadas numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, na qual a representante especial do secretário-geral da ONU para Crianças e Conflitos, Virgínia Gamba, indicou que os menores continuam a ser desproporcionalmente afetados nas guerras e conflitos armados.
Violações graves foram verificadas em maior número na República Democrática do Congo, Israel e Palestina, Somália, Síria, Ucrânia, Afeganistão e no Iémen.
"Crianças foram mortas ou feridas em ataques aéreos, por armas explosivas, por munições reais, em fogo cruzado ou em ataques diretos. Em muitos casos, foram vítimas de restos de explosivos de guerra", explicou Gamba.
"A violência e violações sexuais contra crianças, embora cronicamente subnotificadas, também foram verificadas em níveis elevados. Em 2022, 1.165 crianças, quase todas meninas, foram violadas, violadas por gangues, forçadas ao casamento ou à escravidão sexual ou agredidas sexualmente. Alguns casos foram tão graves que resultaram na morte das vítimas. Os crimes cometidos contra essas crianças são horríveis", lamentou a representante.
Sexo, idade e deficiência estão entre os muitos fatores que moldam a vulnerabilidade das crianças a estas violações graves, segundo o relatório.
As Nações Unidas verificaram ainda ataques a 1.163 escolas e 647 hospitais, números que representam um aumento de 112% em relação ao ano anterior. Cinquenta por cento desses ataques foram perpetrados por forças governamentais.
Além disso, o uso de escolas e hospitais para fins militares continua a ser uma grande preocupação, uma vez que expõe professores, alunos, pessoal médico e pacientes à violência e, muitas vezes, leva a danos ou à destruição completa de infraestruturas civis.
Apesar de as violações graves terem aumentado, Virgínia Gamba sublinhou que as Nações Unidas registaram 3.931 incidentes de recusa de ajuda humanitária a crianças em 2022.
"Nunca devemos esquecer que por trás de cada violação verificada está a vida de uma criança, com a sua história individual. No ano passado, 18.890 crianças foram afetadas e ainda assim as suas histórias não são contadas", afirmou Gamba.
Durante a sua intervenção, a representante destacou algumas situações concretas da violência infligida a crianças, expondo os casos de três meninas violadas em grupo no Sudão do Sul durante cinco dias de terror, dos meninos mortos por uma explosão numa escola no Afeganistão, da jovem de 14 anos sequestrada e queimada viva em Myanmar (antiga Birmânia) ou de uma menor que ficou com os membros amputados na Ucrânia.