Esta informação consta do terceiro relatório semanal "Narrativas de desinformação sobre a guerra na Ucrânia" do European Digital Media Observatory (EDMO), relativo ao período de 24 a 31 de março.
O relatório aponta que é de esperar uma "amplificação da desinformação russa", já que foi criada uma rede de contas falsas nas redes sociais desde o início da guerra para "ampliar a disseminação da desinformação do governo russo e autoridades diplomáticas".
O peso deste fenómeno "está a crescer" e está a ser monitorizado pela comunidade de investigadores, adianta.
Outro dos alertas é relativo à desinformação sobre as consequências económicas da guerra.
"As consequências económicas do atual conflito, incluindo no setor de energia e na produção de trigo, estão a afetar fortemente a oferta global da cadeia de fornecimento" e isso "está a tornar-se um alvo fácil de campanhas de desinformação para criar descontentamento na Europa e no ocidente", alerta o EDMO.
Outro dos avisos tem a ver com a desinformação sobre práticas discriminatórias contra cidadãos russos na União Europeia e ‘russofobia’.
"A ‘russofobia’ representa um problema real, especialmente na Europa oriental" e "este sentimento está a ser exagerado em infundadas ações discriminatórias contra cidadãos russos", refere o Observatório Europeu.
"Estamos atualmente a investigar estas tendências e forneceremos análises o mais rápido possível", afirma a entidade, no seu relatório semanal que analisa as últimas tendências sobre a desinformação sobre a guerra na Ucrânia.
O relatório destaca ainda cinco narrativas falsas (‘fake news’) que circulavam na semana em análise.
Uma delas tem a ver com o questionar a guerra, da sua realidade aos seus motivos, em que foram detetadas desinformações que apontavam que os media estavam a relatar falsamente sobre o conflito ou o foco no laboratório de armas biológicas na Ucrânia.
Outra das narrativas falsas tem a ver com informações não comprovadas sobre luta e rendição, com manobras militares fora do contexto.
Foi ainda detetada desinformação sobre a crise humanitária, onde se referia refugiados ucranianos violentos e exploradores dos países que os acolhem ou de forças armadas que impedem ajuda aos civis ou até sobre menores desacompanhados.
Regista-se também outras duas tendências de desinformação: representação distorcida quer sobre os ucranianos, quer sobre os russos.
No total, 738 análises foram fornecidas pelos parceiros de ‘fact-checkning’ [verificadores de factos] do EDMO desde 24 de fevereiro e 57 durante a semana desde relatório (de 24 a 31 de março).
Em termos de meios utilizados para transmitir desinformação, 37% eram vídeos, 35% imagens e 28% texto.
O observatório EDMO salienta que "para ter uma compreensão completa da desinformação, o acesso a conjuntos de dados relevantes das plataformas ‘online’ é fundamental", pois permitirá identificar atores, vetores, ferramentas, tendências e padrões.
Por essa razão, e tendo como foco a guerra na Ucrânia, a ‘taskforce’ do EDMO para a desinformação na guerra da Ucrânia enviou um pedido às empresas Alphabet, Meta, Pinterest, Snapchat, Telegram, TikTok e Twitter para obter dados, mediante determinados parâmetros, e discriminados por Estado-membro.
"Esperamos receber essas informações" em tempo útil "e considerá-las um processo de ‘benchmarking’ que esperamos que seja replicado regularmente", afirma o Observatório Europeu.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.276 civis, incluindo 115 crianças, e feriu 1.981, entre os quais 160 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4,1 milhões de refugiados em países vizinhos e cerca de 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.