A carta é assinada pelos presidentes do Conselho Regional do Norte, Miguel Alves, da Entidade Regional do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, da Associação Comercial do Porto, Nuno Botelho, da Associação Empresarial de Portugal, Luís Miguel Ribeiro, da Associação de Têxteis de Portugal, Mário Jorge Machado, e da Associação dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos e Afins de Portugal, Rafael Campos Pereira.
Na missiva, enviada também ao primeiro-ministro, aquelas entidades sublinham que o Norte de Portugal se sentiu “humilhado” com a decisão da Comissão Executiva da TAP, que “aponta para uma desproporção gritante entre a retoma de operações no aeroporto Humberto Delgado [em Lisboa] e os restantes aeroportos do país, em particular o aeroporto Francisco Sá Carneiro”.
“A chave aqui é a celeridade e a proporcionalidade do processo [de retoma da atividade], fatores dos quais os autarcas, as empresas, as associações e todas as entidades da Região Norte não abdicarão”, referem.
O plano de regresso à atividade da transportadora aérea, conhecido no dia 25 de maio, previa a retoma de 27 voos semanais até ao final de junho e 247 no mês seguinte, sendo a maioria de Lisboa.
Este plano inicial tinha sido censurado por vários autarcas e partidos políticos, que criticaram as opções da transportadora e exigiram que o Governo tomasse uma posição.
“Não se entende e não se aceita que a mobilização paulatina dos meios da TAP possa ser feita de modo tão desigual entre aeroportos e regiões, esquecendo equilíbrios territoriais, necessidades a cobrir, oportunidades a aproveitar e princípios de equidade e adequação que julgamos básicos na gestão de uma empresa público-privada que prossegue o interesse estratégico de Portugal, de todo Portugal”, referem os signatários da missiva.
Na carta, apontam, por exemplo, que a região Norte conta com 3,6 milhões de habitantes, concentra 33,6 % das empresas do país, contribui com cerca de 40% das exportações nacionais, é aquela que mais incentivou a retoma económica no período pós-‘troika’, destaca-se na criação de emprego e é a região de turismo que mais cresceu no último ano.
Os subscritores dizem ainda que foi no Norte de Portugal que, no ano passado, se verificou o maior crescimento do número de hóspedes e dormidas em Portugal, tendo sido registados cerca de seis milhões de hóspedes, representando 11 milhões de dormidas, das quais 6,5 milhões são de estrangeiros, um crescimento de 10% em relação ao período homólogo.
“A nossa região ocupa neste momento a segunda posição em número de hóspedes, tendo recentemente ultrapassado” os destinos Madeira e Algarve, vincam.
Na carta, lembram também que o aeroporto Francisco Sá Carneiro crescia, desde 2017, 10% por ano, conseguindo em 2019 realizar 13 milhões de movimentos de passageiros.
Além disso, aquele aeroporto serve um universo de cinco milhões de habitantes, considerando nesta equação a Região Centro e a Galiza, em Espanha.
Para aquelas entidades, este retrato do Norte de Portugal “não é desconhecido” da TAP, para deixar claro que esse foi “um dos principais motivos da insatisfação generalizada” de autarcas, empresas e instituições da região, aquando da apresentação do plano de retoma de operações no período posterior à pandemia por parte da Comissão Executiva da transportadora.
Os autores da carta “saúdam” as audições que foram levadas a cabo ao longo desta semana, mas lamentam que as mesmas não tenham precedido a primeira decisão, “situação que evitaria o desconforto de uma má escolha para o país e para a região”.
Paralelamente, deixam claro que vão exigir que o regresso da atividade operacional da TAP seja sempre de partir da mesma proporção de operações, entre aeroportos, que existia no período pré-covid.
“Não pode nem se compreenderia que fosse de outra forma: se até à evidência da pandemia se entendia que o aeroporto Francisco Sá Carneiro poderia assegurar a partida e chegada de uma determinada percentagem de voos internacionais, nenhuma razão existe que possa determinar que seja de modo diferente neste período de regresso ao novo quotidiano”, escrevem.
O contrário, alertam, “seria pensar numa tática de desvalorização das operações a Norte que poderia forçar o paulatino desmantelamento do aeroporto”.
Assim, consideram que a discussão posterior passa, sobretudo, por criar condições para o regresso gradual dos voos existentes para a Europa, incluindo-se aqui as ilhas nacionais, e os voos intercontinentais.
“À medida que abrimos a economia, as empresas, as ruas e as portas das nossas casas, não podemos ter uma empresa de referência como a TAP a dar um sinal contraditório e a cortar as asas ao futuro da região”, lê-se ainda na carta.
Na quarta-feira, a TAP garantiu estar empenhada em recuperar "tão rapidamente" quanto possível e de forma "sustentada" a proporcionalidade da oferta no Aeroporto do Porto, mostrando-se disponível para continuar o processo de diálogo.
Na mesma nota, a TAP assegura ainda que irá continuar o processo de diálogo com todas as regiões portuguesas.
C/Lusa