Apesar de ter filmado com nomes como Claude Chabrol ou François Truffaut, o teatro foi "o reino" de Michel Bouquet, escreveu hoje o jornal Le Monde, considerando-o "um monstro sagrado no exercício da sua arte", pela exigência, rigor e intensidade em palco.
Nascido em Paris em 1925, Michel Bouquet iniciou-se na representação ainda na adolescência, no Teatro Chaillot, na capital francesa, e despediu-se dos palcos em 2017, com 93 anos, a interpretar "Tartufo", de Molière.
"No teatro, a personalidade do autor é tão majestosa, seja [Harold] Pinter ou Molière, que não fazemos mais do que tentar transmitir a palavra da forma mais obediente possível. O mais importante é esquecermo-nos de nós próprios", afirmou o ator, em 2019, em entrevista à France-Presse.
Nos palcos, Michel Bouquet interpretou tanto textos clássicos como contemporâneos, de August Strindberg a Samuel Beckett, de Molière a Eugene Ionesco, autor de quem interpretou pelo menos 800 vezes, ao longo de duas décadas, a peça "O rei está a morrer".
No cinema, Michel Bouquet trabalhou com Jean Delannoy, François Truffaut, Luis Buñuel e, sobretudo, com Claude Chabrol. Deu ainda a voz ao documentário "Noite e nevoeiro", de Alain Resnais, sobre o Holocausto.
Michel Bouquet venceu por duas vezes o César de melhor ator em "Como matei o meu pai" (2001), de Anne Fontaine, e em "Um passeio pela História" (2005), de Robert Guédiguian, no qual interpreta o papel do antigo presidente francês, François Mitterrand.
Um dos seus últimos papéis no cinema foi num filme de Gilles Bourdos, encarnando o pintor Pierre-Auguste Renoir, nos últimos anos de vida.