Marcelo Rebelo de Sousa evocou o Dia Internacional do Trabalhador e pediu “autorização ao presidente da CP para fazer referência especial a dois trabalhadores da empresa que simpaticamente” quiseram estar presentes na exposição “Unidos Venceremos” – Protesto, Greves e Sindicatos no Marcelismo (1968-1974), inaugurada hoje à tarde no edifício das oficinas da CP no Barreiro.
Francisco São Pedro e Luís Neto, com “37/38 anos ao serviço da CP, mas ainda muito jovens” foram os trabalhadores presentes na abertura da mostra homenageados pelo chefe de Estado, através dos quais homenageou “todos os trabalhadores portugueses”.
“E homenageamos em liberdade”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa, para depois lembrar como era noticiado o Dia do Trabalhador durante a ditadura de 48 anos em Portugal deposta pela Revolução do 25 de Abril de 1974.
Os “mais velhinhos de nós, e eu sou dos mais velhinhos aqui presentes, lembram-se que o 1.º de Maio era noticiado durante a ditadura assim: “antes nada, no dia seguinte: houve pequenos problemas provocados por energúmenos revolucionários, por poucas dezenas, centenas de adversários dos bons princípios e valores e tal, aqui e acolá, mas assim uma notícia pequenina, que saía normalmente no República, ainda mais pequenina no Diário de Lisboa, pequeníssima n´O Século e depois os editoriais dos defensores da ditadura – o Diário da Manhã, a VOZ – a bater naqueles que tinham aproveitado um dia que devia ser de lazer, de descanso, de repouso dos trabalhadores para perturbarem a ordem pública”.
O 1º de maio em democracia “celebra-se em liberdade e, por isso, há centrais sindicais que naturalmente desfilam defendendo os seus valores, os seus princípios”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando haver também “confraternizações e encontros de trabalhadores um pouco por todo o país”.
“Há trabalhadores que estarão em luta, outros que não estarão em luta, mas isto é a democracia, é a liberdade”, observou, acrescentando que “foi para isto que se fez o 25 de Abril”.
“Para ser um 1º de Maio diferente”, sublinhou.
Marcelo Rebelo de Sousa falava na exposição que evoca o papel do mundo do trabalho e do movimento sindical no combate à ditadura, promovida pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, inaugurada hoje em Lisboa e no Barreiro.
“Unidos Venceremos! Protesto, Greves e Sindicatos no Marcelismo (1968-1974)”, que lembra o papel do mundo do trabalho e do movimento sindical anticorporativo no combate à ditadura, está patente no Hub Criativo do Beato e nas Oficinas da CP no Barreiro até 30 de junho de 2023.
Para o comissário científico da mostra, o historiador José Pacheco Pereira, esta versa sobre um tema de “grande relevância” para se compreender o fim da ditadura e o processo de construção da democracia.
Porque o movimento sindical e grevista documentado na mostra “teve um papel decisivo no fim do Estado Novo”, assim como na criação das novas instituições democráticas”, afirmou.
O chefe de Estado considerou ainda que o 25 de Abril “continua a dever-lhe [a Pacheco Pereira], ano após ano, aquilo que é inestimável”, disse numa alusão aos “milhares e milhões” de documentos que compõem o acervo do arquivo Ephemera, que permitem compreender o antes e o depois do 25 de Abril, sublinhando ainda que abre esse acervo a todo o país e explica-os sempre que pode, por todos os meios ao seu alcance.
“E isso é o que se chama viver o 25 de Abril sem ser de forma nostálgica, passadista ou a pensar na conjuntura do presente”, frisou.
O Presidente da República dirigiu-se ainda ao presidente da CP para sublinhar o “valor imenso” tanto ao nível de arquitetura industrial, como de património e de história, da “obra da CP ao manter vivo este espaço e muitos outros”.
“Isto é excecional”, pois trata-se da “ponte entre passado, presente e futuro”, acrescentando ser essa a “função da CP”.
Marcelo Rebelo de Sousa dedicou também uma palavra à comissária executiva da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, Maria Inácia Rezola, sublinhando que tem estado “bem apoiada pelo Governo para estar onde é preciso estar em milhentas manifestações que percorrem o país”.
Para o Presidente, as mostras que visitou durante a manhã, em Lisboa, e à tarde, no Barreiro, deviam ser vistas “por gente mais nova”, nomeadamente pelos que nasceram depois do 25 de Abril, de forma a “perceberem bem o que foi o antes, como foi o antes, o que foi sendo o depois e o que poderá vir a ser o amanhã, que eles vão construir ainda mais do que nós”.
O início de uma nova época de protestos, greves, reivindicações, de ação legal, semi-legal e clandestina iniciada antes da ascensão de Marcelo Caetano ao poder, em 1968, e intensificada durante o seu Governo, é visível nos vários documentos expostos.
O crescimento das lutas sociais, o movimento grevista e a ação de partidos e movimentos clandestinos, como o PCP, ou dos católicos progressistas está também patente na exposição, que destaca ainda a participação das mulheres no movimento de contestação, sobretudo o das operárias ligadas aos têxteis e lanifícios.
Até ao final de junho, a mostra contará com um programa em que figuram visitas guiadas, leituras de livros infantis e conversas.
“Unidos Venceremos! Protesto, sindicatos e greves no Marcelismo (1968-1974)” conta com a parceria da Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Arquivo Nacional do Som, Câmara Municipal de Lisboa, Câmara Municipal do Barreiro e CP – Comboios de Portugal.