O protesto foi marcado pelos trabalhadores do GMG que enfrentam uma ameaça de despedimento, salários e subsídios em atraso, e juntou jornalistas de vários órgãos de comunicação social nacionais, figuras da política nacional e local.
“Penso que este é um ponto de viragem para o jornalismo. Começou por ser uma luta nossa, de títulos que merecem ser respeitados, temos títulos com muita história (…), mas todos nós sabemos que temos vivido, há vários anos, em ambiente de crise no jornalismo e este parece ser um momento ideal para todos juntos, em unidade, refletirmos sobre as dificuldades do setor e sobre as condições de que necessitamos para fazer um trabalho sólido que não esteja vulnerável por condições económicas”, afirmou a diretora demissionária do Jornal de Notícias (JN), Inês Cardoso.
Em 06 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva do GMG, que detém títulos como o JN, O Jogo, Diário de Notícias, TSF, entre outros, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.
“Sabemos há muito tempo que o grupo tinha resultados deficitários, tinha dificuldades (…) há vários anos que lidávamos com apelos à redução de custos e constrangimentos mas esse esforço tinha vindo a ser feito de forma sustentada e, portanto, foi bastante inesperado [o anúncio de necessidade de despedimentos no GMG]”, explicou a responsável.
Os trabalhadores da gráfica do grupo – Naveprinter – estiveram também presentes no protesto e criticaram aquilo que chamaram ser “uma chico-espertice” que permitiu que os jornais saíssem hoje para as bancas.
“Foram para outra gráfica imprimir os jornais, 25 mil do JN e 10 mil de O Jogo”, explicou à Lusa o trabalhador da Naveprinter e também dirigente sindical Álvaro Pinheiro.
Segundo Álvaro Pinheiro, nunca tal tinha acontecido: “Os jornais foram sempre impressos na Naveprinter mas como eles [a Administração da GMG] sabia que nós íamos mobilizar [para a greve] arranjaram maneira a ‘tirar’ os jornais noutro sítio”.
O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte) acusou, ao início da tarde, a GMG de violar o direito à greve ao recorrer a uma gráfica fora do grupo para imprimir os jornais de hoje e prometeu acionar os mecanismos possíveis para que aquele comportamento seja sancionado.
O protesto começou por volta das 14:00, em frente à “torre do JN”, com jornalistas e trabalhadores do GMG e de vários outros órgãos de comunicação a marcharem, entoando palavras de ordem contra o “fundo desconhecido” que comprou o GMG e “pela Democracia e Jornalismo”, até à Câmara Municipal do Porto, onde se juntou ao protesto o autarca da cidade.
“Olho para isto com uma enorme preocupação pelos direitos dos trabalhadores do JN, da TSF e de O Jogo. O desaparecimento destes órgãos de comunicação social é uma tragédia. É uma tragédia para o país, para o Norte e, neste caso específico, para o Porto”, considerou Rui Moreira, que chamou a atenção para o financiamento da comunicação social.
Segundo o autarca, esta não é uma “altura de tomar medidas paliativas”, mas sim de “olhar para isto como uma situação de fundo”, salientando que não se compreende porque é que na contratação pública as autarquias estão sujeitas a limitações.
“Isto não é um serviço qualquer, o serviço que é prestado à população por um jornal não é um serviço qualquer. Como é que se compreende que o Estado seja tão paternalista que permite que ele próprio, Estado, possa participar em órgãos de comunicação social, e bem, mas por que é que não permite que os municípios possam participar nos jornais”, afirmou Rui Moreira, questionando se “é por desconfiança do poder autárquico em Portugal”.
A greve dos trabalhadores do GMG teve início às 00:00 e terminará às 23:59.
Lusa