O coordenador da pós-graduação em Marketing Digital Filipe Carrera admite que o fenómeno das ‘fake news’ em Portugal é hoje feito por amadores, mas alerta que “os grupos extremistas” vão chegar.
O fenómeno das ‘fake news’ ainda é incipiente em Portugal, porque “os seus criadores ainda têm uma atuação muito amadora, mas não é preciso ter uma bola de cristal para perceber que o profissionalismo de grupos extremistas vai chegar”, afirmou, numa entrevista à Lusa, por email.
Ora 2019 é um ano de europeias, legislativas e regionais na Madeira e mesmo sem eleições, Carrera receia que o fenómeno “tenda a agravar-se”.
“Com ou sem eleições este fenómeno tende a agravar-se, pois três fatores conjugam-se, criando a tempestade perfeita para o triunfo das ‘fake news’", argumentou Filipe Carrera, licenciado em Economia e coordenador da Pós-Graduação em Marketing Digital no Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), em Lisboa.
Para este especialista, há três fatores a ter em conta, como o “alheamento da participação cívica em que as crescentes taxas de abstenção são uma das provas”, a “falta de debate entre os cidadãos” e a “perda de qualidade, credibilidade e alcance dos meios de comunicação tradicionais”.
As ‘fake news’, comummente conhecidas por notícias falsas, manipulação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros, ganharam importância nas presidenciais dos EUA que ditaram a eleição de Donald Trump, no referendo sobre o ‘Brexit’ no Reino Unido e, mais recentemente, nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro.
Em Portugal registaram-se alguns casos de ‘fake news’, nomeadamente um que envolveu a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, por alegadamente usar um relógio avaliado em 20 milhões de euros.
O DN, que abordou o assunto, noticiou a existência de ‘sites’ sediados no Canadá que alojam notícias falsas sobre a política portuguesa, ligados a uma empresa de Santo Tirso.
Em Portugal, acrescentou Filipe Carrera, o “discurso político tem vindo a adaptar-se às novas circunstâncias, as palavras-chave, as imagens fortes e os ‘sound bites’ são sintomáticos dessa adaptação”.
“Porque a política e os meios de comunicação que temos são reflexo da sociedade em que vivemos, pois de outra forma não sobrevivem”, acrescentou.
Além do mais, “a conjugação do alheamento dos cidadãos e do bombardeamento de ‘fake news’, cria um ambiente perfeito para ascensão de populismos e movimentos extremistas”, dado que “soluções simples e radicais são mais fáceis de explicar e de propagar”.
E, no limite, “se nada for feito, a tendência será” ter “uma democracia no papel, mas na prática uma ditadura baseada a ignorância consentida”, argumentou.
Para o futuro, o coordenador da pós-graduação em Marketing Digital diz não existirem soluções fáceis e rápidas.
É preciso, aconselhou, “começar nas escolas e mesmo mudar os métodos de ensino para que desde muitos jovens todos se sintam parte de um sistema democrático e não de um sistema que lhes foi imposto”.
Por outro lado, “têm que ser desenvolvidos projetos que fomentem o debate das questões que realmente interessam no desenvolvimento do país”.
LUSA