A Câmara Municipal do Funchal planeia plantar nos limites do Parque Ecológico um "cintura" de árvores mais resistentes ao fogo para preservar esta reserva natural e proteger a cidade dos efeitos das enxurradas de inverno.
Os incêndios da segunda semana de agosto dizimaram cerca de 60% da área do Parque Ecológico – 428 hectares e cerca de 200 mil plantas, com particular incidência na cabeceira sobranceira à ribeira de Santa Luzia, a zona do Pico Alto e parte do Chão da Lagoa.
A recuperação levará décadas e representará um investimento de "milhões de euros" para o qual a autarquia espera contar com o apoio de fundos comunitários e de ajudas regionais e nacionais.
Para esbater os efeitos destruidores dos incêndios e das aluviões, protegendo esta área natural a 30 minutos da cidade do Funchal, o município pretende criar uma "cintura" circundante ao Parque Ecológico que teria plantas resistentes ao fogo", revelou à agência Lusa a vereadora com o pelouro do Ambiente, Idalina Perestrelo.
Segundo a autarca, essa ‘cintura’, posicionada ao longo da faixa sul do parque ou fazendo fronteira entre a área florestal e a zona já urbana, poderia servir de proteção nos dois sentidos — caso surgisse na área florestal ou na cidade – e permitir "pelo menos um atraso no incêndio ou até, quem sabe, ser uma barreira".
Em causa estão, por exemplo, castanheiros e azinheiras, espécies complementadas por aceiros e caminhos florestais.
"A nossa intenção é que venham já com algum tamanho, um metro seria o ideal para que possam dar rapidamente o salto e atingir os dois e três metros nos próximos cinco a 10 anos", adiantou.
Por isso, Idalina Perestrelo afirma que a ‘cintura’ "é urgente" e será o primeiro trabalho de reflorestação do Parque Ecológico: "Criará uma forma de segurança e de ajuda a todos os outros projetos que venham a ser colocados no terreno".
O Plano de Ação Florestal (PAF) é outro instrumento criado pela Câmara do Funchal para repensar e equacionar o futuro do Parque, que a autarquia quer que continue a ser "um espaço de lazer para a população", esperando que o cinzento que agora se vê seja substituído pelo verde natural.
"O PAF é um instrumento para administrar este espaço florestal que nos vai dar indicação do que fazer e como fazer dentro do Parque Ecológico e que vai ser essencial a futuras reflorestações, porque temos que ter uma estratégia, temos que ter zonas bem definidas, onde começar e como manter. Mais do que plantar, é preciso fazer manutenção e prevenção", realçou.
Para pôr tudo isto em prática, existe já um grupo de trabalho constituído por pessoas das mais diversas áreas – proteção civil, engenharia florestal e biologia, incluindo especialistas em questões relacionadas com plantas invasoras e incêndios.
"Pretende-se angariar opiniões, estratégias, conclusões para que o Parque Ecológico venha a ter melhorias significativas no que diz respeito à sua gestão e a soluções futuras, para minimizar estas catástrofes e estes eventos que vamos continuar a ter", explica a autarca, acrescentando esta "é uma área essencial para a vida do município e que representa cerca de 13% da área do Funchal".
O primeiro documento sobre o qual o grupo de trabalho se debruçará será o relatório sobre os incêndios que ocorreram na segunda semana de agosto na ilha da Madeira, provocando três mortos e um ferido grave, três centenas de habitações parcial ou totalmente destruídas, várias centenas de desalojados e deslocados, num total de 157 milhões de euros de prejuízos.
A Câmara espera ter as conclusões do grupo de trabalho para até ao final do ano, para iniciar os trabalhos de campo no início de 2017.
C/Lusa