Uma investigação sobre o papel das mulheres na imprensa regional concluiu que existe uma profunda desigualdade de género no acesso a cargos de chefia.
“Apesar de as mulheres estarem em maior presença no ensino superior e nos cursos de comunicação, e de existir uma maioria feminina nas redações, o que se verifica é que existe uma profunda desigualdade de género no que diz respeito ao acesso de chefias, chefes de redação, administração e direção”, constatou a autora do estudo, a professora e jornalista Liliana Carona.
A investigação sobre o papel das mulheres na imprensa regional foi tese de doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade de Coimbra, apresentada em novembro.
O trabalho intitulado “A feminização do jornalismo regional em contexto português: o caso dos jornais centenários” debruçou-se na análise aos 40 jornais regionais centenários, aplicou um inquérito aos profissionais da imprensa regional e realizou entrevistas em cinco jornais centenários.
A conclusão que Liliana Carona destacou “é transversal” aos três estudos incluídos na investigação.
“Mais do que ter uma perceção de que há desigualdade de género, esta investigação confirma que existe desigualdade de género com algumas consequências sobretudo com aquilo que são as ambições profissionais da mulher”, realçou a investigadora, à agência Lusa.
A autora assinalou que “as mulheres continuam a denunciar diversos obstáculos no que diz respeito à ascensão da carreira profissional”.
E relatou que “quando há uma abordagem ao tema da desigualdade de género ou é negada ou, do ponto de vista das mulheres, é um dado adquirido e não há nada a fazer”.
Na análise aos 40 jornais regionais centenários existentes em Portugal, localizados maioritariamente no norte do país, a investigação também constatou uma desigualdade de género. Apenas seis publicações (15%) têm mulheres como diretoras.
Nos jornais centenários, as redações são compostas maioritariamente por homens, mas o inquérito nacional provou que existem mais mulheres do que homens na imprensa regional.
Liliana Carona evidenciou ainda que nos inquéritos aos profissionais da imprensa regional “cerca de metade da amostra [216 inquéritos respondidos] é a favor da inclusão de uma alínea dedicada exclusivamente à necessidade de uma visão sobre a igualdade de género no Código Deontológico dos Jornalistas”.
Os dados da investigação demonstram ainda que as mulheres são as que são mais afetadas pela precariedade: “Os números indicam que 24,2% das mulheres afirma ter contrato temporário de trabalho, face a 17% dos homens”.
No trabalho da professora e jornalista também se constatou que as redações da imprensa regional continuam a pautar-se por um trabalho polivalente, “o que traz até consequências para aquilo que determina o código e a ética dos jornalistas”.
“Verifica-se a presença de profissionais que desempenham tudo e mais alguma coisa. Acumulam-se funções de jornalismo e de publicidade. Há redações onde isso se verifica”, apontou Liliana Carona.
A autora considerou que seria útil a definição de um título de imprensa regional e a inclusão de uma alínea específica no Código Deontológico sobre igualdade de género. E também a implementação de planos para a igualdade de género adaptados ao contexto dos média.
Na sua opinião, deveria apostar-se na clarificação das normas de acesso à profissão. “Porque não a criação de uma ordem que venha regulamentar a entrada na profissão?”, questionou.
Liliana Carona referiu que “a ideia que passa é de uma profunda desvalorização da profissão e do seu acesso” e “quase qualquer pessoa pode ser jornalista desde que comprove que escreve para um jornal”.
Lusa