Os dados foram hoje avançados pela Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), que em abril fez um estudo, junto de mil portugueses em Portugal continental, com mais de 18 anos, para perceber o motivo do decréscimo destes doentes nas consultas desde o início da pandemia, algumas canceladas pelos próprios e outras suspensas pelas unidades de saúde.
"Verificou-se que as pessoas, à medida que foram sendo vacinadas, foram perdendo o receio. A vacina teve um papel determinante", acentuou, à agência Lusa o presidente da FPC, Manuel Carrageta, que realçou o risco acrescido para os doentes cardiovasculares em caso de contágio pelo novo coronavírus.
Segundo Manuel Carrageta, "estes doentes sofreram muito em termos de complicações, por não terem assistência devida" e "deixaram de ser tratados adequadamente", por perceberem que em caso de infeção as consequências seriam mais nocivas e por isso recolheram-se em casa.
"As pessoas tinham mais medo da covid-19 do que da sua própria doença. Isso levou a um aumento da mortalidade", referiu o cardiologista, segundo o qual as doenças coronárias são responsáveis por um terço do total das mortes da população portuguesa, embora não tenha disponíveis os dados parcelares para fazer a análise do último ano.
O presidente da FPC salientou que se constata um aumento no nível de confiança dos doentes nas deslocações às unidades de saúde, "porque viram que as condições de segurança, em geral, eram boas".
"Os portugueses já sabem lidar com a pandemia e o receio do vírus já não coloca em causa o acompanhamento dos doentes cardíacos, como se verificava há uns meses", sublinhou Manuel Carrageta.
De acordo com o presidente da FPC, os doentes, por "estarem assustados", "mesmo os 60% que iam" às consultas, faziam-no "com um intervalo maior".
"Houve uma redução do acesso aos cuidados de cardiologia. Agora é uma forma de compensação que vai durar um mês ou dois e depois volta tudo à normalidade", referiu o médico, que afirmou não ter "instrumentos para avaliar esses números", mas da troca de impressões entre especialistas, "há uma perceção muito forte desse aumento do afluxo às consultas".
O risco de morte é maior num doente cardíaco infetado com covid-19, mas o responsável da FPC explicou que as doenças cardiovasculares estão ligadas à idade, por a prevalência aumentar quando se é mais velho, e destacou que a maioria dessas pessoas já foi vacinada, ou pela idade, ou por serem doentes de risco.