“Fomos penalizados, claramente, por falarmos verdade. Quando comparamos o número de testes por 100 mil habitantes dos diferentes países percebemos que há países que foram privilegiados nesta nova condição que testam três, quatro vezes menos do que Portugal”, afirmou João Fernandes.
Segundo aquele responsável, a decisão – que implica que os britânicos tenham que cumprir quarentena no regresso ao país, se passarem férias em Portugal -, não se baseia “em factos”, existindo vários fatores que não foram considerados.
“É nos novos casos por 100 mil habitantes [que se baseia a decisão] e estamos a retratar um período curto, não estamos a retratar o número de casos ativos por 100 mil habitantes, porque há casos que vêm de antes desse período”, argumentou.
Portugal, onde foram identificados vários surtos localizados nas últimas semanas, não está na lista hoje publicada de 59 países e territórios onde os britânicos podem passar férias sem cumprir quarentena no regresso e que inclui Espanha, Alemanha, Grécia, Itália, Macau ou Jamaica.
O sistema vai entrar em vigor na próxima sexta-feira, 10 de julho, e permite evitar que quem chegue destes países tenha de ficar 14 dias em isolamento, como acontece atualmente com todas as pessoas que chegam a Inglaterra do estrangeiro, ou arriscam uma multa de mil libras (1.100 euros).
Segundo João Fernandes, o mercado britânico “é o mais expressivo na região” ao longo do ano, representando quase seis milhões de dormidas, apesar de, no verão, o mercado mais relevante para o Algarve ser o mercado nacional.
Contudo, sublinhou, “não há qualquer ilusão” de que a decisão hoje conhecida “pode resfriar o ímpeto de crescimento e procura do Reino Unido pela região e pelo país em geral”, apesar de Portugal ser um dos países “com menor taxa de letalidade”.
Para João Fernandes, se o Algarve fosse avaliado ‘per si’, teria condições “muito mais vantajosas do que a maioria de outras regiões”, já que, desde o início da pandemia, tem “uma expressão muito residual de casos”, com apenas “1,5% dos casos em Portugal”.
Além disso, reforçou, a decisão é “injustificada” se for considerado o facto de que “68% das dormidas de hotelaria dos britânicos do período de julho a setembro no nosso território acontece no Algarve”.
O Presidente do Turismo do Algarve acredita, no entanto, que os britânicos vão continuar a viajar para o Algarve, ainda que provavelmente em menor número, pois já o estavam a fazer mesmo tendo de cumprir quarentena.
“[a decisão] Contraria a própria vontade dos turistas britânicos, porque nós retomámos as ligações em meados de junho com o Reino Unido, mas hoje estamos ligados a 20 aeroportos diferentes, de todas as regiões do Reino Unido, com cinco companhias aéreas distintas”, concluiu.
O anúncio feito hoje aplica-se apenas a Inglaterra porque a Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte têm autonomia sobre matéria de saúde e cabe aos respetivos governos determinar as medidas que pretendem introduzir.
O Reino Unido é o principal mercado emissor de turistas para Portugal, tendo representado 19,2% das dormidas de estrangeiros em 2019 e vindo a registar sucessivos crescimentos desde 2013, apenas interrompidos em 2018, de acordo com dados do INE.
Os destinos preferenciais dos hóspedes britânicos foram o Algarve (63,4% das dormidas do mercado), a Madeira (18,5%) e a Área Metropolitana de Lisboa (10,8%).
O Reino Unido registou até quinta-feira 43.995 mortes (em 283.757 casos de infeção) durante a pandemia Covid-19, o maior número na Europa e o terceiro maior no mundo, atrás dos EUA e Brasil.
Portugal contabiliza pelo menos 1.587 mortos associados à Covid-19 em 42.782 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
C/Lusa