Depois de dois meses de rigoroso confinamento, 4,4 milhões de italianos foram autorizados hoje a regressar ao trabalho e a visitar familiares próximos, mas entre incerteza quanto às restrições que são levantadas nesta ”fase dois” do combate à pandemia provocada pelo novo Coronavírus.
Os setores da construção e comércio grossista retomam a atividade e os restaurantes podem reabrir, mas apenas para serviço ‘takeway’, as crianças passam a poder brincar ao ar livre e as atividades desportivas individuais podem realizar-se a maior distância da residência.
Jardins e parques reabrem, mas permanecem fechados os parques infantis e proibidos os piqueniques.
Embora as concentrações e missas continuem proibidas, os italianos podem a partir de hoje visitar familiares em pequenos números e assistir a funerais até ao limite de 15 pessoas.
O pequeno comércio permanece encerrado, à exceção do que já anteriormente tinha sido autorizado a reabrir: supermercados, farmácias e parafarmácias, quiosques, livrarias, lojas de roupa de criança e lojas de jardinagem.
À AFP, um transeunte, Stefano Milano, 40 anos, diz-se “feliz” por recuperar alguma liberdade e poder receber um primo quando, dentro de dias, o filho celebrar o aniversário.
Admite contudo ter “medo” de que um eventual novo surto afete os seus pais, idosos.
O tráfego em Roma era hoje de manhã intenso e as bancas de venda de flores regressaram ao mercado de Campo dei Fiori, pela primeira vez desde 11 de março.
Ouvido pela AP, um dos vendedores, Stefano Fulvi, assegurou que as flores “trazem felicidade e alegria” e que “as pessoas sentiam falta delas”, mas admitiu que está a “correr um risco” dada a previsível pouca procura, com muitas pessoas ainda confinadas a casa.
As máscaras são obrigatórias nos transportes públicos e em espaços fechados abertos ao público.
O sul do país preparava-se também hoje para o regresso de estudantes e trabalhadores que ficaram retidos pelo confinamento nas províncias do norte, mais atingidas pela pandemia, com alguns governadores a imporem uma quarentena de duas semanas a todos os que regressem.
Quem regressa, por outro lado, não pode voltar à região onde esteve confinado.
Os italianos vão continuar a ter de ter consigo uma declaração com os motivos da saída à rua, mas a lista de justificações foi alargada com a visita a familiares.
Contudo, o jargão técnico utilizado no decreto de 26 de abril que define a “fase dois” tem sido muito criticado, nomeadamente a palavra “congiunti”, um termo arcaico e vago usado no decreto para descrever que familiares podem ser visitados.
Orientações publicadas no sábado indicam que o termo abarca parentes, mas também pessoas com quem se tenha relações emocionais estáveis, o que cria problemas de interpretação, parecendo incluir apenas unidos de facto e namorados, mas exclui amigos.
A utilização dos transportes públicos também gera dúvidas.
Numa carta à ministra dos Transportes, Paola de Micheli, duas organizações que representam empresas de transporte público advertem que só é possível manter as regras de distanciamento reduzindo a capacidade normal para 25% a 30%, o que pode criar aglomerações nas paragens de autocarro e estações de metro.
Para aliviar o recurso aos transportes públicos, o governo adotou, no âmbito das medidas de apoio associadas à pandemia, uma bonificação de 200€ para quem comprar bicicletas ou ‘scooters’ elétricas ou recorrer a serviços de partilha de automóvel.
No domingo, pela sétima semana consecutiva, Itália manteve o decréscimo do número de mortes e de casos ativos da doença.
“Muitas empresas e fábricas vão reabrir e haverá muito mais oportunidades de contágio, que só podemos evitar com um sentido de responsabilidade ainda maior”, advertiu o primeiro-ministro, Giuseppe Conte.
“Como nunca antes, o futuro do país está nas vossas mãos. Quanto mais escrupulosos formos, mais depressa poderemos recuperar outras liberdades”, frisou.
Itália regista 28.884 mortos e mais de 210 mil casos, segundo números oficiais de domingo, sendo o país europeu com mais mortos e o segundo, depois de Espanha, com mais infeções.
Surgido em dezembro na China, o vírus SARS-CoV-2 já infetou em todo o mundo 3,4 milhões de pessoas, mais de 245 mil morreram.
C/Lusa