"A minha avaliação é muito positiva", disse Blanca Ramos, bióloga que trabalha há 32 anos em conservação da natureza e atualmente desempenha funções de assessora ao nível da União Europeia.
A perita espanhola, indicada pelo Conselho da Europa, visitou hoje as três ilhas – Deserta Grande, Deserta Pequena e Ilhéu Chão – com o objetivo de avaliar os trabalhos de conservação realizados pelo Governo Regional da Madeira, no âmbito da renovação do Diploma Europeu para as Áreas Protegidas.
"É um trabalho muito meritório, considerando até a crise que houve na Europa, sobretudo em Portugal e Espanha, que afetou muito os meios para a conservação [da natureza], mas apesar de tudo os gestores das ilhas Desertas conseguiram fazer um trabalho muito bom", disse, no regresso ao Funchal.
As Ilhas Desertas localizam-se a cerca de 50 quilómetros da capital madeirense e encontram-se legalmente protegidas desde 1990, com a criação da Área de Proteção Especial. A grande motivação foi a necessidade de preservar a pequena colónia de foca-monge do Mediterrâneo, vulgarmente conhecida como lobo-marinho, cujo projeto de conservação se iniciou em 1988.
No âmbito da avaliação, Blanca Ramos destacou a necessidade eliminar "o quanto antes" as cabras da Deserta Grande, considerado que é uma decisão fundamental para a proteção da vegetação.
"As cabras estão ali por uma razão que já não tem razão de ser. Foram introduzidas pelos homens por uns determinados motivos que já não têm cabimento", realçou, vincando que produzem um "efeito enorme" na vegetação.
"Se a conservação das Desertas é a prioridade, está claro que as cabras não podem continuar ali", afirmou.
O Governo Regional da Madeira desencadeou, entretanto, um plano de erradicação das cabras, tendo já sido eliminadas na Deserta Pequena, existindo ainda "algumas centenas" na Deserta Grande. O abate é feito pela Polícia Florestal com recurso a armas de fogo, sendo que este ano foram já eliminados 38 exemplares.
"Outra coisa [necessária ao nível da conservação] é assegurar que a população de lobos marinhos continue a crescer, porque está numa situação de estagnação", indicou Blanca Ramos, sublinhando a importância de serem eliminados os fatores de mortalidade não natural, nomeadamente relacionados com artes de pesca.
Além das Desertas, a Madeira recebeu em 1992 o Diploma Europeu para as Áreas Protegidas destinado às Selvagens, sendo estas as duas únicas áreas protegidas de Portugal com esta distinção.
O Conselho da Europa deverá pronunciar-se sobre a renovação do Diploma Europeu para as Áreas Protegidas após o verão de 2019.
C/ LUSA