Os negociadores ucranianos e russos que reuniram hoje na segunda ronda de negociações confirmaram que foi alcançado um acordo para um cessar-fogo temporário por motivos humanitários.
Enquanto decorriam as negociações, na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, Putin garantia que a operação militar na Ucrânia está a decorrer "de acordo com o planeado", insistindo que a Rússia está a combater "neo-nazis" e que russos e ucranianos são "um só povo".
Do lado ucraniano, o Presidente Volodymyr Zelensky pediu um reforço do apoio dos países ocidentais, insistindo que a Rússia, se derrotar o seu país, atacará depois o resto da Europa de leste para chegar "ao Muro de Berlim".
"Se desaparecermos, que Deus nos proteja, então será a Letónia, a Lituânia, a Estónia, etc… Até ao Muro de Berlim, acreditem em mim", afirmou Zelensky, acrescentando que o Kremlin pode ter como objetivo reconstruir toda a esfera de influência europeia da URSS.
As declarações surgiram após as autoridades ucranianas terem confirmado a tomada da cidade portuária de Kherson, no sul do país, por tropas russas, uma captura que a Rússia tinha anunciado na manhã de quarta-feira.
Kherson, com cerca de 290 mil habitantes, é o maior centro urbano capturado pelas forças russas desde que a invasão começou, em 24 de fevereiro.
A partir da Casa Branca, o Presidente norte-americano, Joe Biden, prometeu que a Rússia vai pagar por todos os danos infligidos à Ucrânia, prometendo "reconstruir todos os edifícios" destruídos pelos ataques russos.
“Vamos reconstruir todos os prédios, todas as ruas, todas as cidades e dizemos à Rússia: aprenda a palavra ‘reparações’”, afirmou Biden, num discurso gravado em vídeo e hoje divulgado.
A Casa Branca anunciou ainda que pediu ao Congresso dos EUA cerca de 10 mil milhões de dólares (cerca de nove mil milhões de euros) para fornecer armas defensivas à Ucrânia, para que o Governo de Kiev possa proteger a rede elétrica ucraniana e combater ataques cibernéticos e de desinformação por parte do invasor russo, afirmou a Casa Branca, em comunicado.
Em sintonia com a posição norte-americana, a Alemanha decidiu entregar mais 2.700 mísseis antiaéreos à Ucrânia, de acordo com uma fonte governamental alemã.
O Governo alemão "aprovou um apoio suplementar à Ucrânia", disse a fonte, citada pela agência de notícias France-Presse, numa referência aos mísseis do tipo STRELA.
Entretanto, a Rússia intensificou os ataques militares e a retórica diplomática.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, acusou os líderes ocidentais de terem planos para uma “verdadeira guerra” contra a Rússia, que só poderá ser nuclear.
“Todos sabem que uma terceira guerra mundial só pode ser nuclear, mas chamo a vossa atenção para o facto de que isto está na mente dos políticos ocidentais, não na mente dos russos”, disse Lavrov numa videoconferência de imprensa a partir de Moscovo.
Em tom semelhante, o Ministério da Defesa da Rússia advertiu que não reconhecerá como prisioneiros de guerra “mercenários estrangeiros” que lutam na Ucrânia contra o exército russo.
"Quero sublinhar oficialmente: todos os mercenários enviados pelo Ocidente para ajudar o regime nacionalista de Kiev não são combatentes de acordo com as leis humanitárias internacionais. Não têm direito ao estatuto de prisioneiro de guerra", avisou o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov.
Também o chefe do Serviço de Informações Externas (FSB, que sucedeu ao KGB) da Rússia, Sergey Naryshkin, denunciou que a Ucrânia estava a trabalhar no fabrico de uma bomba atómica.
“De acordo com os dados do Ministério da Defesa da Rússia, a Ucrânia conservou (desde a União Soviética) o potencial técnico para criar armas nucleares e é mais capaz de o fazer do que o Irão ou a Coreia do Norte. Além disso, de acordo com os dados do FSB, a Ucrânia estava a trabalhar nessa direção”, afirmou, em comunicado.
Na União Europeia, o dia de hoje foi de preocupação com os refugiados e com corredores humanitários, para tentar proteger civis atingidos pela guerra.
Os ministros dos Assuntos Internos da União Europeia (UE) chegaram a um “acordo histórico” para ativar, pela primeira vez, a diretiva que concede proteção temporária no bloco a refugiados, dirigida aos ucranianos que fogem da invasão russa.
“Decisão histórica no Conselho de Justiça e Assuntos Internos neste momento: a UE dará proteção temporária a quem foge da guerra na Ucrânia”, anunciou a comissária europeia da tutela, Ylva Johansson, numa publicação na rede social Twitter.
Ao mesmo tempo, a comissária europeia dos Assuntos Internos saudou o acordo de hoje para acionar a diretiva de proteção temporária, apontando que a Europa já acolheu perto de um milhão de refugiados ucranianos e que “milhões mais” chegarão em fuga da guerra.
“Já recebemos na Europa quase um milhão de refugiados da Ucrânia. Vamos assistir [à vinda de] milhões mais. E é por isso que precisávamos desta legislação apropriada para dar proteção às pessoas” que fogem da invasão russa, disse Ylva Johansson, numa conferência de imprensa após uma reunião de ministros dos Assuntos Internos da UE, na qual foi alcançado um “acordo histórico” para ativar, pela primeira vez, a diretiva que concede proteção temporária no bloco a refugiados.
No balanço, no final de uma semana de combates, pelo menos 227 civis, incluindo 15 crianças, foram mortos e outros 525 ficaram feridos na invasão da Rússia à Ucrânia, indica um comunicado do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Segundo o OCHA, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos já contabilizou 227 civis mortos, incluindo 15 crianças, e outros 525 feridos, dos quais 28 menores, na Ucrânia desde o início do conflito armado.
A UNICEF denunciou hoje que a invasão russa da Ucrânia provocou “mais de meio milhão de crianças refugiadas” no espaço de uma semana, alertando para as “consequências trágicas” e o “preço muito elevado” deste conflito.
Perante a situação de êxodo em massa, a República Checa declarou hoje o estado de emergência, que entrará em vigor na sexta-feira e irá durar um mês, para lidar com a vaga de refugiados da guerra na Ucrânia, informou o chefe do executivo checo, Petr Fiala.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de um milhão de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.
Lusa