Cerca de mil notificações judiciais foram movidas por ex-titulares de 700 contas do Banif, num processo em que obrigacionistas subordinados e acionistas reclamam a perda de 263 milhões de euros, informou hoje, no Funchal, a associação de lesados.
Dois anos após a resolução do Banif pelo Governo da República e o Banco de Portugal, a ALBOA – Associação dos Lesados do Banif, Obrigacionistas e Acionistas – organizou uma manifestação no centro do Funchal, que culminou com momentos de grande tensão à porta da antiga sede, agora um balcão do Santander, instituição que adquiriu o banco em 2015.
Mais de cem manifestantes tentaram forçar a entrada, o que obrigou a um reforço do dispositivo policial, mas de modo geral tratou-se de um protesto pacífico, embora muito ruidoso e com muitos cartazes e tarjas com inscrições como "No roubar é que está o ganho", "O Estado não nos protege, rouba", "Senhor primeiro ministro António Costa os lesados também comem", "Fomos enganados, queremos as nossas poupanças".
"Passaram-se dois anos e, infelizmente, nem um cêntimo recebemos", afirmou Daniel Caires, um dos dirigentes da associação, lembrando que a ALBOA representa apenas 1.300 lesados não qualificados, num total de 3.500, a maior parte dos quais emigrantes e ex-emigrantes na Venezuela, África do Sul e Estados Unidos.
O escritório que representa a associação avançou, entretanto, com cerca de mil notificações judiciais, referentes a ex-titulares de 700 contas.
Os lesados tinham de mover as ações até esta terça-feira (19 de dezembro), individualmente e por duas vias: uma judicial e outra por reclamação à comissão liquidatária do Banif, correndo o risco de, caso não avançassem com os processos, perderem os direitos e a possibilidade de reaver os montantes investidos em produtos do banco.
Daniel Caires anunciou, no entanto, que vai ser aberta uma segunda fase, a partir da próxima semana, estendendo-se até à data da liquidação total do Banif.
O Banif foi adquirido pelo Santander Totta por 150 milhões de euros, na sequência de uma resolução do Governo da República e do Banco de Portugal, através da qual foi criada a sociedade-veículo Oitante, para onde foi transferida a atividade bancária que o comprador não adquiriu.
A ALBOA representa 1.300 dos 3.500 obrigacionistas subordinados e acionistas que perderam 263 milhões de euros no processo de venda do banco ao Santander.
Além destes, há ainda a considerar 4.000 obrigacionistas Rentipar (‘holding’ através da qual as filhas do fundador do Banif, Horácio Roque, detinham a sua participação), que investiram 65 milhões de euros, e ainda 40 mil acionistas, dos quais cerca de 25 mil são oriundos da Madeira.
Além da manifestação no Funchal, a ALBOA programou para esta tarde um protesto em Lisboa, que deverá reunir ex-clientes de todo o continente, com autocarros a sair de diversas cidades, e terminará com a entrega de uma carta no gabinete do primeiro-ministro, António Costa.
LUSA