O presidente do Governo Regional da Madeira aconselhou hoje a comunidade madeirense residente no Reino Unido a ter calma e a permanecer tranquila, face ao "choque democrático" que foi a decisão de sair da União Europeia.
"A nossa comunidade, que eu conheço bem, está muito bem integrada no Reino Unido, é uma comunidade trabalhadora, respeitada, íntegra e que tem tido um papel muito importante na dinamização da economia do Reino Unido", disse Miguel Albuquerque, no decurso da sessão solene comemorativa do 514.º aniversário do concelho da Calheta, na zona oeste da Madeira.
As autoridades estimam que 120 mil madeirenses residem e trabalham atualmente no Reino Unido, mas o presidente do Governo está convencido que não vão ser alvo de discriminação, embora reconheça que uma das bases do referendo que ditou a saída do país da União Europeia fosse contra a emigração.
"Temos que ter alguma calma. A reação tem de ser tranquila e ninguém pode entrar em pânico", sublinhou, lembrando que a Madeira tem relações com o Reino Unido há centenas de anos.
Os cidadãos britânicos decidiram na quinta-feira em referendo sair da União Europeia com o ‘sim’ à saída (‘Brexit’) a vencer com 51,9% dos votos.
Miguel Albuquerque manifestou-se, no entanto, apreensivo quanto ao impacto da saída dos britânicos na economia regional, sobretudo no setor do turismo, tendo conta que só no ano passado foram registados 1,6 milhões de dormidas de cidadãos do Reino Unido.
"Mas estou convencido que, passado este choque inicial, vai haver uma estabilização cambial e, aliás, o próprio presidente do Banco de Inglaterra já disse que tinha 250 mil milhões de libras para injetar na economia e instituições para evitar a especulação financeira", considerou.
O chefe do executivo madeirense disse, por outro lado, que, muitas vezes, os "choques" e as "mudanças abruptas" não são más para as instituições, porque as fazer "acordar" para o desfasamento em relação à vida social e económica dos países e à vivência dos cidadãos.
"Não tenho dúvida que este choque democrático vai fazer com que a União Europeia possivelmente volte a alterar alguns seus pressupostos, designadamente o da solidariedade e da coesão económica e territorial", afirmou Miguel Albuquerque, realçando que a saída do Reino Unido poderá conduzir a União Europeia a uma "maior proximidade" com os cidadãos comuns.
A vitória do ‘Brexit’ levou esta manhã o primeiro-ministro britânico, David Cameron, a anunciar a sua demissão com efeitos em outubro.
As principais bolsas europeias abriram hoje em forte queda, com a bolsa de Londres a descer perto dos 8%, mantendo-se ao início da tarde com perdas entre os 4% e os 10%.
Numa primeira reação, os presidentes das instituições europeias (Comissão, Conselho, Parlamento Europeu e da presidência rotativa da UE) defenderam um ‘divórcio’ o mais rapidamente possível, "por muito doloroso que seja o processo".