António Costa falava numa entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa e com a Escola Superior de Comunicação Social, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e dos 40 anos do clube.
Interrogado sobre a posição de Portugal relativamente à adesão da Ucrânia à União Europeia, o primeiro-ministro manifestou dúvidas sobre a possibilidade de esse processo de concretizar com rapidez.
“Colocar todas as fichas num processo que é incerto, necessariamente moroso e sujeito a múltiplas vicissitudes é um risco que acho muito grande. Há outra dimensão, que é a de saber se a União Europeia, ela própria, está preparada para novos passos de alargamento. Até agora, a União Europeia não tem sido capaz de acolher países como a Albânia, Montenegro, que têm uma dimensão bastante diferente da Ucrânia”, observou.
Para António Costa, a guerra na Ucrânia, mas antes a questão da pandemia da covid-19, “têm permitido disfarçar um conjunto de problemas que a União Europeia tinha no seu seio e ainda tem por resolver”.
“Se as eleições presidenciais francesas confirmarem a opção europeia da França no próximo domingo, Emmanuel Macron não deixará de aproveitar o encerramento da conferência sobre o futuro da Europa para relançar um debate de fundo sobre a estrutura da União Europeia”, referiu.
De acordo com o líder do executivo, já antes do último grande movimento de alargamento, em 2004, houve a discussão de saber se a União Europeia se deveria primeiro aprofundar e só depois alargar.
“Na altura, a decisão foi alargar primeiro e depois discutir. Desde o Tratado de Lisboa que há vários países que se sentem desconfortáveis no fato desse tratado”, assinalou o primeiro-ministro.
Por isso, na perspetiva de António Costa, em relação à Ucrânia, “é preciso primeiro saber se a União Europeia está em condições para ser efetivamente capaz de acolher um país que tem 40 milhões de habitantes e que é o maior país em território de toda a Europa”, tirando o caso da Rússia.
“A urgência da Ucrânia nunca se resolve com o alargamento. Só se resolve com soluções que sejam compatíveis com a urgência. Por isso, o aprofundamento do acordo de associação com a União Europeia é o espaço ideal”, contrapôs.
Ainda segundo António Costa, “convém não esquecer que, se Portugal tem esta posição, há países que dizem não” à adesão imediata da Ucrânia.
“Outros dizem não enquanto os outros países que estão já em negociação não entrarem primeiro. Nem nós, União Europeia, nem a Ucrânia, não temos qualquer interesse em que haja uma divisão na Europa. A maior ajuda que a União Europeia pode neste momento dar à Ucrânia é reforçar a sua unidade no seu apoio”, argumentou.