Dezoito mulheres foram assassinadas e 23 foram vítimas de tentativa de homicídio em 2017, ano que apresenta a taxa mais baixa de incidência dos últimos 14 anos registada pelo Observatório das Mulheres Assassinadas (OMA), segundo dados avançados à Lusa.
“É o terceiro ano que registamos uma diminuição na incidência de femicídio (…) congratulamo-nos com o facto e achamos que é uma evolução muito positiva, mas ainda é muito cedo para falarmos de uma tendência”, disse à agência Lusa a diretora da área de violência da União de Mulheres Alternativas e Resposta (UMAR), Elisabete Brasil.
De qualquer forma, “temos 18 mulheres assassinadas e é sempre muito, nem que fosse uma era sempre muito”, lamentou, alertando que “é um fenómeno que traz consequências não só para as vítimas”, como para os familiares e para a sociedade
Em média, foram verificados 1,6 homicídios por mês, sendo que oito vítimas tinham entre 51 e os 64 anos, seis entre 36 e 50 anos e quatro mais de 65 anos, adiantam os dados baseados nos crimes noticiados pela imprensa até 20 de novembro.
Segundo o observatório, da UMAR, em 50% dos casos, o crime foi cometido pelo marido, companheiro, namorado e em 22% das situações pelo ex-marido, ex-companheiro, ex-namorado.
A violência intrafamiliar, nomeadamente a praticada contra as mães, contabiliza três casos, e por outros familiares dois casos, referem os dados divulgados a propósito do Dia Internacional para a Eliminação da Violência sobre a Mulher (25 de novembro).
A residência foi onde ocorreu a maior parte dos homicídios (83%), seguida da via pública (17%).
Os dados mostram que seis homicídios foram praticados com arma de fogo e outros seis com arma branca (66% dos casos).
Em nove dos 18 homicídios, a medida de coação aplicada foi a prisão preventiva e num caso a prisão domiciliária.
Os números mostram que 56% das mulheres assassinadas foram vítima de violência na relação de intimidade. Em quatro casos existia denúncia apresentada e noutros dois, além da denúncia, haviam já sido decretadas medidas de coação no âmbito desse processo.
“Grande parte destas situações não surgem de forma isolada, elas surgem de uma relação que já era violenta e que termina num assassinato”, disse Elisabete Brasil.
Sublinhou ainda que o facto de existirem processos-crime e terem decorrido inquéritos “não foi o suficiente para evitar que estas mulheres fossem assassinadas”.
Para a responsável, é preciso manter as estratégias de proteção e de segurança, fazer uma avaliação e gestão de risco contínua, e “perceber que um agressor de violência doméstica é um indivíduo perigoso e que, em muitas das vezes, é capaz de matar”.
Também é preciso “mudar uma cultura que ainda é patriarcal, de um machismo que ainda dita que numa relação de conjugalidade ou de intimidade a mulher é quase uma pertença do homem”, vincou Elisabete Brasil.
“É preciso mudar esta mentalidade e dizer que homens e mulheres são iguais e igualmente capazes de decidir a sua vida” e que têm de respeitar o outro quando diz ‘sim’, mas também quando diz ‘não’, sustentou.
Para Elisabete Brasil, é preciso responsabilizar o agressor pelo seu comportamento de violência, um “sinal que ainda não foi dado em Portugal”.
“Muitas vezes são as vítimas que têm a responsabilidade da sua proteção e da sua segurança e o agressor fica impune a aguardar que uma justiça se faça, mas sem que haja uma repercussão direta na sua esfera jurídica, pessoal, social, laboral, enquanto que as vítimas têm de fugir para se proteger e adaptar-se a um sistema de proteção”, salientou.
Também acontece muitas vezes as denúncias terminarem em arquivo e algumas em suspensão provisória de processo. Há outras que seguem para julgamento e que são condenatórias, mas “terminam com penas suspensas”, o que “acaba por ser uma certa impunidade quer aos olhos da sociedade quer aos olhos das próprias vítimas”.
LUSA