A reação de Guterres foi transmitida pelo seu porta-voz, Stéphane Dujarric, e complementa o comunicado emitido na quarta-feira à noite pelo secretário-geral.
Nele, António Guterres apelou a todos os bolivianos, “incluindo as Forças Armadas, para protegerem a ordem constitucional”, na sua primeira reação à tentativa fracassada de golpe de Estado em La Paz.
Guterres, que demorou várias horas a pronunciar-se, também não utilizou o termo “condenação”, afirmando apenas “estar muito preocupado com os acontecimentos e com as alegações de uma tentativa de golpe de Estado”.
A partir de Genebra, o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, também se declarou “profundamente preocupado” com a situação naquele país latino-americano e apelou para que se investigue a violência denunciada durante o levantamento militar e os detidos tenham um “julgamento justo”.
Num comunicado, Türk defendeu hoje que deve ser feita uma investigação “exaustiva e imparcial” das alegações de violência relacionadas com a tentativa falhada dos líderes militares para derrubar o governo do Presidente boliviano, Luis Arce, que aprofundou a agitação num país a braços com um grave declínio económico.
“Estou profundamente preocupado com a incursão militar de quarta-feira no palácio presidencial da Bolívia”, disse Volker Türk, acrescentando ser “essencial que as autoridades bolivianas, incluindo as Forças Armadas, garantam o pleno respeito pelos direitos humanos em todas as circunstâncias, protejam a ordem constitucional e mantenham a paz”.
“Exorto as autoridades a realizar uma investigação exaustiva e imparcial sobre as acusações de violência e os relatos que dão conta de feridos. Os responsáveis devem ser responsabilizados, e as pessoas detidas no contexto dos acontecimentos devem beneficiar de um julgamento justo”, sublinhou.
O Alto-Comissário sustentou que o diálogo e os mecanismos democráticos são a única forma de resolver as tensões.
Na quarta-feira, o chefe do Estado-Maior do Exército, Juan José Zuñiga, enviou tropas e tanques para o centro da capital boliviana, La Paz, onde estes tentaram arrombar um portão do palácio presidencial.
Pouco depois, os soldados e os tanques retiraram-se, e a televisão local transmitiu imagens da detenção de Zuñiga.
O chefe do Estado-Maior da Marinha boliviana, Juan Arnez Salvador, foi também detido. Os dois altos responsáveis militares incorrem numa pena de até 20 anos de prisão pelos crimes de terrorismo e de sublevação armada, segundo os procuradores do Ministério Público.
Lusa