Ao Expresso, a direção do partido afirma não conhecer o caso mas, a ser verdade, será "totalmemente ilegal".
César do Paço, ex-cônsul de Portugal em Cabo Verde e conhecido financiador do Chega, financiou parte da campanha eleitoral do CDS-Madeira em 2019, altura em que o PSD perdeu a maioria absoluta e os centristas entraram no governo.
O financiamento foi feito através de transferências diretas para a conta bancária de Rui Barreto, líder do CDS na Madeira, e de mais quatro membros do partido – Gonçalo Santos, Vitor Barreto, Luis Filipe Santos e Gonçaçlo Camacho – num total de 29.880 euros. Informação é revelada pela SIC na última parte da reportagem "A grande ilusão", emitida esta quarta-feira à noite.
Em causa estão várias transferências diretas no valor aproximado de cinco mil euros não só para a conta de Rui Barreto como também para a de Gonçalo Nuno Santos, adjunto de Rui Barreto na secretaria regional de Economia, que recebeu duas vezes em duas contas distintas, e para a de outras três pessoas ligadas ao partido que o próprio líder do CDS descreve, em respostas à SIC, como pessoas da sua "maior confiança".´
As transferências aconteceram um dia depois de Rui Barreto ter conhecido, em Lisboa, César do Paço, que chegou a ser militante e assumido financiador (através de donativos) do CDS, como escreveram as revistas "Visão" e "Sábado". O encontro deu-se a 6 de agosto de 2019, a seis semanas das eleições na Madeira, e as transferências foram feitas no dia seguinte, revela a SIC. Em julho de 2020, o advogado de César do Paço enviou um e-mail a Rui Barreto, a que a SIC teve acesso, a exigir a devolução da quantia.
Por essa altura, o CDS passava por dificuldades financeiras na Madeira e tinha pedido, sem sucesso, um empréstimo à Caixa de Crédito Agrícola. A campanha fez-se e o CDS, vendo o PSD a perder a maioria absoluta nas sondagens, colocou-se como o fiel da balança afirmando, taxativamente, que estava disponível para se coligar no governo com quem ganhasse – para evitar o "poder absoluto".
Há 43 anos que o PSD governava na Madeira com maioria absoluta.
Acabou por protagonizar um "momento histórico" quando entrou pela primeira vez no governo regional conseguindo duas pastas executivas e a presidência da Assembleia Regional. Uma delas foi a da Economia, que valeu a Rui Barreto o terceiro lugar na hierarquia do executivo de Miguel Albuquerque.
Para ser um donativo legal, o montante transferido não podia ser superior a 10.400 euros e, no caso, o montante corresponde quase ao triplo.
Em respostas à SIC, Rui Barreto afirma que foi, de facto, um empréstimo, aconteceu porque o partido estava com dificuldades financeiras nas vésperas das eleições e o empresário ofereceu-se para ajudar.
O dinheiro, contudo, não entra nas contas do partido mas sim nas contas pessoais do líder do CDS-Madeira, do presidente da concelhia e de mais três pessoas próximas de Barreto, incluindo familiares.
Questionado sobre o porquê de o empréstimo não ter sido logo pago quando as contas do partido foram regularizadas, nomeadamente após as eleições, Rui Barreto escuda-se na pandemia e no facto de o advogado de César do Paço ter "desaparecido".
Ao Expresso, o atual secretário-geral do CDS nacional diz desconhecer o caso, garantindo que tal não passou pela contabilidade do partido. "A ser verdade, é totalmente ilegal", diz, uma vez que contraria tudo o que se refere às regras de financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais.
Certo é que o pagamento acabou por ser feito mas apenas dez dias depois de a SIC ter feito as questões ao líder do CDS-Madeira.
O empréstimo foi feito a título pessoal, sem juros, em agosto de 2019; as eleições decorreram em setembro e a devolução do dinheiro foi feita em fevereiro de 2021, já depois das perguntas do jornalista.
Em outubro de 2019, o Chega ganha entrada na Assembleia da República e as atenções de César do Paço viram-se para o partido de André Ventura.