Dados oficiais indicam que um agente policial perdeu hoje a vida após levar um tiro na cabeça e que 24 suspeitos morreram durante a operação na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, num momento em que este tipo de ações foram restringidas pela justiça, devido à pandemia de covid-19.
Peritos de segurança pública consultados pela agência espanhola EFE garantiram que se trata de "o maior massacre da história do Rio de Janeiro", porque, na visão dos especialistas, acabou por ser uma "operação de vingança" após a morte do agente da polícia.
"A Polícia Civil, que deve usar inteligência e planeamento, foi a autora desse massacre ao matar mais de 20 pessoas numa operação, numa ação desastrosa que foi realizada com o objetivo de desmantelar quadrilhas de jovens que assaltavam transportes públicos, mas isso se transformou numa operação de vingança, uma operação de matança", disse à EFE a coordenadora da Rede de Observatórios de Segurança Pública, Silvia Ramos.
O intenso confronto armado teve início na manhã de hoje no Jacarezinho, uma das comunidades mais violentas do Rio de Janeiro, onde cerca de 200 agentes policiais foram enviados para reprimir uma quadrilha de traficantes de drogas.
Segundo a Polícia, os narcotraficantes que controlam a área têm recrutado menores para a prática de ações criminosas.
As autoridades indicaram que um trabalho de inteligência permitiu identificar 21 integrantes da quadrilha, "todos responsáveis por garantir o controlo territorial da região com o uso de armas de fogo".
Contudo, a operação desta quinta-feira no Rio de Janeiro põe em causa, mais uma vez, a atuação da polícia durante operações em favelas.
A ação de hoje é a operação policial autorizada mais letal da história do Rio de Janeiro, segundo um levantamento feito pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), a pedido da imprensa local.
"Essa que foi a operação mais letal que consta na nossa base de dados, não tem como qualificar de outra maneira que não como uma operação desastrosa", disse ao portal de notícias G1 o sociólogo Daniel Hirata, do Geni da Universidade Federal Fluminense, que fez o levantamento a pedido do G1.
"Essa foi uma ação autorizada pelas autoridades policiais, o que torna a situação muito mais grave. A gente precisa de uma resposta do secretário de estado da Polícia Civil, do Governo do Estado do Rio e do Ministério Público sobre o que aconteceu hoje no Jacarezinho", acrescentou.
Ainda em relação a operações policiais autorizadas, a de hoje ultrapassa, por exemplo, a ocorrida em 2007, no Complexo do Alemão, que resultou em 19 mortos.
Face a ações não autorizadas, feitas de forma isolada por polícias, o número de vítimas mortais de hoje supera as 21 registadas em agosto de 1993 na favela Vigário Geral, um dos maiores massacres da cidade e também causado por agentes policiais, que na ocasião agiram encapuzados, numa ação de vingança.
A maior chacina ocorrida no Estado do Rio de Janeiro ocorreu em 2005 e ficou conhecida como "Chacina da Baixada", em que um grupo de polícias militares à paisana, que atuou como uma espécie de grupo de extermínio, matou 29 pessoas, incluindo mulheres e crianças, em diversos pontos dos municípios de Nova Iguaçu e Queimados.
As operações policiais foram proibidas no Rio de Janeiro em junho do ano passado pelo Supremo Tribunal, após uma série de supostos abusos cometidos por agentes que causaram a morte de pelo menos 65 pessoas em momentos de confinamento social devido à pandemia.
Conforme estipulado em decisão do mais alto tribunal, apenas poderão ser realizadas operações previamente planeadas e comunicadas ao Ministério Público, como ocorreu hoje, no Jacarezinho.