Begoña Gómez optou por não responder ao juiz “não por ter algo a esconder ou por não querer dar explicações”, mas porque assim a aconselhou a sua defesa, que considera não estarem asseguradas “as garantias” previstas num Estado de direito, disse aos jornalistas o seu advogado, Antonio Camacho.
“Estamos num Estado de direito, numa sociedade democrática avançada, e a declaração de um investigado tem de ser feita com garantias”, afirmou Antonio Camacho.
O advogado considerou que o juiz de instrução do caso não delimitou o objeto da investigação, tal como foi definido por uma instância superior ou tendo em consideração a parte que foi enviada para a Procuradoria da União Europeia, por estarem envolvidos fundos comunitários.
Antonio Camacho realçou também que dois relatórios da equipa de investigação policial enviados ao juiz concluíram que não existem indícios de irregularidades.
“Este procedimento carece de qualquer objeto neste momento” e “um juiz de instrução não pode investigar qualquer coisa, deve delimitar o objeto de investigação”, disse Antonio Camacho.
Begoña Gómez esteve hoje durante dez minutos no tribunal de Madrid a que foi chamada para declarar neste caso.
Em 05 de julho já tinha estado no mesmo tribunal e nesse dia também não foi ouvida pelo juiz, depois de a defesa ter invocado desconhecer uma parte da acusação, por entretanto ter sido apresentada uma nova queixa contra Begoña Gómez.
A investigação que envolve Begoña Gómez tem como base queixas de associações ligadas à extrema-direita e centra-se, em particular, na sua relação profissional com um empresário cujas empresas negociaram ajudas públicas ou participaram em concursos públicos num período em que Pedro Sánchez já era primeiro-ministro.
Em linha com as conclusões da investigação policial, o Ministério Público considerou não haver fundamentos no caso e pediu o arquivamento.
O juiz de instrução, no entanto, considerou haver indícios suficientes para continuar com a investigação e tem chamado diversas pessoas para prestar declarações.
Begoña Gómez, com uma formação em Marketing e gestão, especializou-se, na sua vida profissional, na angariação de fundos para fundações e organizações não-governamentais.
Sánchez e o Partido Socialista espanhol (PSOE) têm reiterado não haver nada que fundamente esta investigação judicial e que está em causa uma perseguição política e pessoal ao chefe do Governo e à sua família, sendo inevitável o arquivamento do caso.
Juntamente com a lei de amnistia para os independentistas catalães, este caso é há várias semanas o principal alvo de ataque ao primeiro-ministro e foi também o motivo que levou Sánchez a ponderar demitir-se no final de abril, dizendo-se vítima, com a família, de uma “máquina de lodo” que difunde mentiras e desinformação na Internet que são depois levadas para o debate político pela direita e pela extrema-direita e judicializadas com queixas de associações extremistas.
Lusa