Marcelo Rebelo de Sousa discursava na cerimónia comemorativa do 111.º aniversário da Implantação da República, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Lisboa.
"Queremos um 05 de Outubro data viva, então criemos um Portugal mais inclusivo, até porque o Portugal que somos nunca vencerá os desafios da entrada a tempo no novo ciclo económico e da multiplicação do conhecimento com dois milhões de pobres e alguns mais em risco de pobreza", declarou o chefe de Estado.
Depois, o Presidente da República apelou para que "Portugal por uma vez entre a tempo – isto é, nos primeiros, e não no meio e menos ainda nos últimos – num novo ciclo económico do clima, energia, digital, ciência, tecnologia e renovado tecido produtivo".
"E dispondo de meios de financiamento adicionais, a serem usados com rigor, eficácia e transparência", referiu.
Marcelo Rebelo de Sousa advertiu que, "desta vez, falhar a entrada a tempo é perder, sem apelo nem agravo, uma oportunidade que pode não voltar mais".
Nesta intervenção, de perto de nove minutos, o Presidente da República fez um balanço do desenvolvimento do país, considerando-o insuficiente: "Demos tantas vezes passos muito importantes, mas ainda assim acabámos por ficar para trás no que poderíamos e deveríamos ser e em comparação com o que muitos outros são. Mesmo depois de anos ou décadas de crescimento e convergência económica".
No seu entender, Portugal teve "a maldição" de ter "perdido o melhor mercantilismo comercial e industrial do século XVIII", assim como "a revolução industrial no século XIX", e de ter tido "décadas de ditadura e de condicionamento industrial".
Por outro lado, apontou como obstáculos "vicissitudes de construção da democracia, crises económicas e financeiras nos anos 70 e 80 e já no novo século, que travaram, limitaram ou adiaram avanços auspiciosos em setores chave" da economia portuguesa.
O chefe de Estado insistiu na mensagem de que é preciso "um Portugal que finalmente entre a tempo no novo ciclo económico", com "aposta no conhecimento" e que seja "mais inclusivo".
"Assim projetará no futuro os ideais originários da República: um Portugal mais atento ao povo à sua soberania, às suas necessidades, à sua voz, nos direitos sociais, na atividade económica, na educação", disse.
"Portugueses, este 05 de Outubro de 2021 terá mesmo sentido para todos nós se for uma data viva. Uma data viva quer dizer um Portugal inclusivo e, por isso, mais justo. Uma data viva quer dizer um Portugal capaz de não perder o novo ciclo da criação de riqueza – e porque mais rico mais inclusivo e mais justo. Uma data viva quer dizer um Portugal mais conhecedor, mais qualificado, mais culto – e por isso mais rico, mais inclusivo e mais justo", reforçou, no final do seu discurso.
O Presidente da República acrescentou que, "superada a pandemia" de covid-19, Portugal tem "nos anos próximos uma ocasião única e irrepetível de reconstruir destinos, de refazer esperanças, de renovar sonhos".
"A pensar em todos os portugueses, e desde logo nos que mais desesperam, e neles nos mais jovens, que são quem mais sofre se essa ocasião passar ao nosso lado sem a assumirmos. Não a podemos perder. Não a vamos perder. Viva a República, viva Portugal", concluiu.
No início do seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa evocou "com saudade" o antigo chefe de Estado Jorge Sampaio, que morreu em 10 de setembro, aos 81 anos, que foi presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Depois, fez um agradecimento "em termos nacionais" ao presidente cessante da Câmara de Lisboa, o socialista Fernando Medina, e "também em termos nacionais" desejou felicidades ao seu sucessor, o social-democrata Carlos Moedas, convidado para esta cerimónia, realizada nove dias depois das eleições autárquicas de 26 de setembro.
Este foi o quinto discurso de Marcelo Rebelo de Sousa no 05 de Outubro e o primeiro do seu segundo mandato como Presidente da República, iniciado em 09 de março deste ano.
Esta cerimónia, organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, teve um formato restrito semelhante ao do ano passado, no interior do edifício dos Paços do Concelho – em vez de ser ao livre, na Praça do Município, como habitualmente – e com presenças limitadas, apesar do levantamento de medidas de contenção da covid-19.
Estiveram presentes, além do chefe de Estado e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que discursaram na cerimónia, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, os presidentes dos quatro tribunais superiores, o presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e vereadores.