“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal…, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”, disse hoje Marcelo Rebelo de Sousa, na zona de entrevistas rápidas no Estádio José Alvalade.
O Presidente da República falava após a vitória de Portugal sobre a Nigéria, por 4-0, no último particular antes da partida para o Qatar, na sexta-feira, para disputar o Campeonato do Mundo.
Rebelo de Sousa explicou aos jogadores que este será “um campeonato muito difícil”, não só por uma inédita calendarização no inverno europeu, como pelas “condições muito difíceis, da construção dos estádios aos direitos humanos”.
Hoje, a associação Frente Cívica pediu ao Presidente da República, ao primeiro-ministro, António Costa, e ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que boicotem o evento.
Nesta entrevista, afirmou que estará no Qatar para assistir à estreia da seleção portuguesa: “Para a semana, no Portugal-Gana, lá estarei”.
Quanto à performance desportiva, apreciou o jogo de hoje, que mostrou que os 26 convocados poderão “estar à altura das circunstâncias” na fase final do Mundial, tendo mostrado “competência técnica e espírito de equipa”.
Marcelo Rebelo de Sousa disse, entretanto, que os jogadores devem encarar “cada desafio como uma final”, e que acredita numa possível vitória na final, “mas é muito difícil”.
Embora as autoridades do Qatar neguem, várias organizações apontam para milhares de mortes naquele país entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial, com um relatório do jornal britânico The Guardian, de fevereiro deste ano, a cifrar o valor em 6.500 óbitos, número que muitos consideram conservador.
Além das mortes por explicar, o sistema laboral de ‘kafala’ e os trabalhos forçados, sob calor extremo e com longas horas de trabalho, entre outras agressões, têm sido lembradas e expostas há anos por organizações não-governamentais e relatórios independentes.
Ao longo dos últimos anos, numerosas organizações e instituições têm apelado também à defesa dos direitos de adeptos, e não só, pertencentes à comunidade LGBTQIA+, tendo em conta a perseguição de que são alvo no Qatar.
Várias seleções, como Dinamarca, Austrália ou Estados Unidos, posicionaram-se ativamente contra os abusos ou a favor da inclusão e proteção, quer dos migrantes quer da comunidade LGBTQIA+, tanto a viver no país como quem pretenda viajar para assistir aos jogos.
O Campeonato do Mundo masculino de futebol vai decorrer entre 20 de novembro e 18 de dezembro, com a seleção portuguesa apurada e inserida no grupo H, com Uruguai, Gana e Coreia do Sul.
“Estou convidado por fundações privadas, uma das quais a Aga Khan, para falar num tema sobre o futuro, a educação e o futuro das sociedades. É muito difícil falar do futuro das sociedades sem falar da democracia, dos direitos humanos e da liberdade”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em Fátima, no concelho de Ourém.
O chefe de Estado falava à margem do 33º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo.
Segundo salientou, as suas declarações sobre os direitos humanos no Qatar na quinta-feira, após o jogo de preparação entre Portugal e a Nigéria, foram da sua iniciativa, considerando ser o momento certo para o fazer.
“Pareceu-me que naquele contexto tinha de falar dos direitos humanos. Se se tratava de um jogo preparatório para o Qatar era muito estranho que naquela ocasião, a primeira depois de ter pedido ao parlamento para se pronunciar [sobre o pedido de autorização para viajar para o Qatar]”, não falasse nos direitos humanos, assumiu.
Segundo o chefe de Estado, a sua ideia era “em território português dizer” o que pensa da “situação dos direitos humanos no Qatar e depois, em território do país” onde se desloca, falar “da situação dos direitos humanos”.
“É o que tenho feito. Fiz isso noutros países que não têm regimes democráticos e com os quais mantemos relações diplomáticas. Os meus antecessores fizeram o mesmo”, sublinhou o Presidente da República.
Sobre as declarações do diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto, que se mostrou “estupefacto” com as declarações do Presidente da República sobre os direitos humanos no Qatar, e pediu para que não fosse assistir ao Portugal-Gana em 24 de novembro, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que é sócio da AMI e não tem visto “muitos chefes de Estado a serem tão veemente e tão claros na condenação do que se passa em termos de direitos humanos no Qatar”.
O Presidente da República reforçou que quando um chefe de Estado visita países com um regime não democrático, fá-lo “pelo interesse nacional”, caso contrário “não se poderia visitar três quartos do mundo” nem receber ou ter relações com esses países, “porque três quartos do mundo” não são democráticos, “mas ditaduras”, insistiu.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda que uma das razões para ir ao Qatar são “os direitos humanos em termos de liberdades das pessoas, as mais diversas liberdades” e “os direitos humanos dos trabalhadores que trabalharam na construção do estádio e cuja situação é dramática e que implica uma responsabilidade que um Estado de direito deve garantir às suas famílias e aqueles que morreram no exercício de uma atividade profissional”.
Após o jogo entre Portugal e a Nigéria, na quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que “o Qatar não respeita os direitos humanos”, mas que vai assistir ao Portugal-Gana, em 24 de novembro.
“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal…, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”, disse o Presidente, após a vitória de Portugal.